
A marca do arquiteto Alcino Soutinho ficará para sempre no Concelho de Matosinhos. Graças à sua genialidade e visão de futuro, Matosinhos possui um dos mais belos edifícios municipais do País.
Nascido em Vila Nova de Gaia, em 1930, cedo descobriu que a sua vocação o empurrava teimosamente para as artes, para a simplicidade das formas, para a pureza das linhas e para uma visão completamente inovadora de olhar o mundo.
Em 1957, Alcino Soutinho terminava a sua formação em Arquitetura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto. Em 1961 viajava para Itália, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi de ouro esta oportunidade única de contactar com vários arquitetos italianos que propunham novos caminhos. Aí, o jovem arquiteto recolheu várias influências que se revelaram marcantes ao longo da sua carreira.
Em 1973, Alcino Soutinho inicia a sua carreira académica com professor do Departamento de Arquitetura da Escola Superior de Belas Artes no Porto. Mais tarde, passa também a lecionar na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, onde assume o cargo de Professor Associado Jubilado.
A par com Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura, Alcino Soutinho é um dos nomes mais sonantes da chamada "Escola do Porto", mas não deixa de integrar elementos atuais de modelos com que vai tendo contacto.
Autor de diversas obras de habitação coletiva e individual, arquitetura de interiores, equipamento e reconversão de edifícios, em 1977, consegue algum reconhecimento internacional com o seu projeto para o novo edifício do Museu Amadeu de Souza Cardoso em Amarante e, em 1982, recebe o prémio Europa Nostra - "International Federation of the Protection of Europe's Cultural and Natural Heritage” pela obra de recuperação do Forte de Vila Nova de Cerveira e sua adaptação para pousada. Em 1984, é-lhe atribuído o prémio da Associação Internacional dos Críticos de Arte. Contudo, é com a obra dos novos Paços do Concelho de Matosinhos, concluída em 1987, que obtém consagração nacional e internacional.
No Porto, a sua obra de maior realce foi o restauro e ampliação da Casa-Museu Guerra Junqueiro, um projeto não acabado de Nicolau Nasoni. “É a única obra institucional que tenho no Porto”, confidenciou o arquiteto, que, no entanto, projetaria para a cidade edifícios que marcam o perfil atual da secção poente da Avenida da Boavista, como o da Bolsa de Derivados.
É extenso o rol de obras de Alcino Soutinho. Este arquiteto obteve, ao longo da sua vasta carreira, vários primeiros prémios em concursos, destacando-se o Monumento aos Calafates – Porto, em co-autoria com Álvaro Siza Vieira e Augusto Amaral, em 1959; o Plano de Pormenor da zona Costeira entre Granja e Espinho em 1985; a Reconversão do Edifício do Antigo Hospital Distrital de Viana do Castelo, em 1985; a sede no norte do Banco Fonsecas & Burnay, em 1990; o edifício da Nova Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, em 1993; a elaboração dos Projetos dos Conjuntos Habitacionais de Lavra1 (54 fogos), Lavra2 (90 fogos) e Perafita (50 fogos) em 1995; o Município de Seregno, em Itália, em 1998; o Projeto de Recuperação e Readaptação da Quinta das Janelas, em Óbidos em 2003; o Projeto de Recuperação e Readaptação da Quinta de Val Pereiras, em Ponte de Lima, em 2003.
Membro da Associação Portuguesa de Designers e do conselho científico da Escola Superior de Arte e Design, Alcino Soutinho foi Presidente do Centro Português de Design entre 1998 e 2001, tendo sido selecionado para o Prémio Europeu “Mies Van der Rohe”, em 1991, e para a representação portuguesa na bienal Internacional de Arquitetura de S. Paulo, no Brasil, em 1993.
Graças à sua genialidade e visão de futuro, Matosinhos possui um dos mais belos edifícios municipais do País. O projeto, da autoria de uma equipa liderada por Alcino Soutinho, foi arrojado. Polémico e, por vezes, controverso. As grandes obras, as que perduram para além do tempo, do espaço e dos homens, são assim! Passados mais de vinte e cinco anos da sua inauguração, ninguém consegue ficar indiferente à harmonia, à simplicidade das linhas e das formas, à volumetria, ao pormenor do grafismo, ao equilíbrio perfeito entre a estética e a funcionalidade. A opinião é unânime: mais do que a casa de todos os matosinhenses e o local de trabalho de uma vasta equipa, o edifício dos Paços do Concelho é um dos maiores ex-libris arquitetónicos do País.
O edifício da Câmara Municipal domina a paisagem da cidade. É o epicentro de tudo e de todos, a referência para quem nos visita e para quem cá vive. A cidade e o edifício fundiram-se num só corpo onde a harmonia, a beleza e a funcionalidade se completam.
A 8 de dezembro de 2012, a Câmara Municipal comemorou os 25 anos dos Paços do Concelho com uma exposição comemorativa onde podiam ser apreciados esquiços de Alcino Soutinho, plantas do projeto, a maquete inicial ou ainda publicações da autarquia relativas a esta temática. A abertura do concurso público para o projeto do edifício dos Paços do Concelho de Matosinhos foi, à época, um grande evento, uma vez que todos os grandes arquitectos nacionais fizeram questão de concorrer.
Tendo havido empate técnico entre dois projetos, pormenor importante, a escolha acabou por recair no projeto de Alcino Soutinho porque este teve o cuidado de manter, valorizar e retratar o Palacete Visconde de Trevões, um elemento que era considerado para demolição por quase todos os outros projetos.
Para além dos Paços do Concelho, Alcino Soutinho é também o autor da Biblioteca Municipal Florbela Espanca e da Galeria Municipal. Deixou ainda em projeto o Auditório Municipal, peça que falta para completar o Centro Cívico de Matosinhos, um conjunto arquitectónico que marca o espaço e o tempo, criando uma harmonia perfeita com o Palacete Visconde de Trevões.
A importância do seu nome e da sua obra na história de Matosinhos levou a autarquia a homenageá-lo com medalha de honra (ouro) e o título de cidadão honorário. Em julho de 2013, a Câmara de Matosinhos em associação com a ordem dos arquitetos, no âmbito do Dia Nacional do Arquiteto, celebrado a 8 de julho, prestou mais uma merecida homenagem a este grande nome da arquitetura nacional e internacional.