
Investimento de cerca de 100 mil euros no restauro do monumento
As obras de restauro do zimbório do Senhor do Padrão, em Matosinhos já estão em curso. O contrato foi celebrado em outubro de 2016 e prevê um prazo de execução de 5 meses.
O restauro do monumento do século XVIII, classificado como monumento nacional desde 1971, propriedade da Misericórdia de Matosinhos, cuja lenda a que está associado terá dado origem à festa do Senhor de Matosinhos, implicará um investimento de cerca de 100 mil euros por parte da Câmara Municipal de Matosinhos.
O monumento do Senhor do Padrão, também conhecido por Senhor do Espinheiro ou Senhor da Areia, por na altura da construção se encontrar em pleno areal da praia, assinala o local onde, segundo a lenda, apareceu a imagem do Bom Jesus de Bouças, mais tarde conhecida por Senhor de Matosinhos.
Devido à sua longevidade e à proximidade da praia, o monumento apresentava já alguns sinais de desgaste. As intervenções de conservação e restauro já iniciadas têm, assim, como objetivo a estabilização, preservação e reposição dos elementos integrados presentes, nomeadamente os azulejos, rebocos, cantarias, esculturas em calcário e gradeamentos.
Na mesa do altar, revestida por um painel de azulejos que no centro tem um medalhão de representação de membro de ordem religiosa, serão substituídos os originais por réplicas exatas em tamanho, forma, cor e técnica. O estado avançado de degradação não permitirá que os originais sejam aproveitados. Para além da proximidade da praia, que tornou o conjunto patrimonial suscetível aos ventos marítimos, fragilizando e degradando o suporte azulejar que o decora, terá ainda contribuído para o estado de degradação geral do monumento alguns atos de vandalismo e algumas manifestações de culto, como colocação de velas e arranjos florais.
O Cruzeiro, uma representação de Cristo Crucificado em granito, revestido por azulejos, passará por um processo semelhante. Com algumas fraturas e manchas de sujidade, ao contrário do que acontece com a mesa do altar, prevê-se que sejam mantidos a maior parte dos azulejos existentes. Contudo, os que apresentarem sinais de maior degradação serão igualmente substituídos por réplicas, que também serão usadas para colmatar a inexistência de alguns. Para que intervenções futuras não sejam inviabilizadas, os materiais que serão usados no restauro permitirão a reversibilidade. Pelo mesmo processo de restauro de azulejaria passarão as cúpulas do fontanário e do zimbório.
No que toca ao suporte pétreo, o zimbório e o fontanário, alocado em frente ao mesmo, serão sujeitos a uma intervenção que tem como objetivo a estabilização de todas as patologias e eliminação de fatores que potenciem a sua degradação. Estes foram sujeitos a intervenções anteriores, pelo que se encontram, de acordo com a avaliação feita, em estado de conservação mediano. O zimbório e o fontanário passarão, assim, por um processo de limpeza de superfícies e de tratamento de desinfestação contra colonização biológica. Será ainda levado a cabo um processo de remoção de argamassas de intervenções anteriores. No caso do zimbório será feita uma avaliação estrutural dos elementos decorativos que decoram a cúpula e uma revisão e eventual reforço estrutural da empena e da cúpula, cujo reboco existente será picado para ser aplicado novo.
No interior do zimbório há quatro esculturas em calcário que representam 4 evangelistas - S. Marcos, S. Lucas, S. João e S. Mateus - que também serão restauradas. Após a intervenção de conservação e restauro, as imagens originais serão substituídas por réplicas de fibra de vidro com carga calcária, para que possam escapar aos fatores de degradação.
O gradeamento metálico que veda o espaço, oxidado, com falhas na pintura e com várias deformações, será desmontado e posteriormente montado já com nova pintura e com algumas partes replicadas.
Recorde-se, por fim, a lenda associada ao monumento do Senhor do Padrão:
Estamos a 3 de maio do ano 124 depois de Cristo. Em Matosinhos, na Praia do Espigueiro, dá à costa uma imagem de Jesus na cruz, alegadamente esculpida por Nicodemos, que o terá visitado no cárcere e testemunhado os últimos momentos da sua vida. Inspirado por este episódio, Nicodemos, que com a ajuda de José de Arimateia terá depositado o corpo de Jesus no sepulcro, terá esculpido várias imagens que retratam o episódio da crucificação, que mais tarde terá, desde a Palestina, lançado ao Mediterrâneo. Uma delas é a que os oceanos trouxeram até Matosinhos. Outras terão ido parar a outros países, dando origem a outros cultos. Mas esta tinha uma particularidade: faltava-lhe um braço. A população local terá tentado encontrá-lo, mas sem efeito. A imagem foi então guardada no mosteiro de Bouças, que hoje não passa de uma ruína.
Eis que, 50 anos depois, uma mulher, que tinha uma filha surda-muda, foi recolher lenha na praia, chegou a casa e começou a acender o lume da lareira. Foi colocando pedaços de madeira na fogueira. A dada altura um dos pedaços teimava em não querer arder. A filha, que não falava desde a nascença, terá avisado a mãe, em voz alta, que aquele pedaço de madeira era então o braço que faltava na imagem do Bom Jesus de Matosinhos. A prova foi feita e o braço encaixou na perfeição na escultura que é atribuída a Nicodemos.
Foi esta a lenda que deu origem ao Monumento do Senhor do Padrão, construído no local onde a imagem terá aparecido, e que deu ainda origem à festa mais popular da cidade, a Festa do Senhor de Matosinhos.
De referir que esta lenda foi mais recentemente retratada pelo historiador Joel Cleto, no livro Senhor de Matosinhos. Lenda. História. Património, editado pela Câmara Municipal de Matosinhos.
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