Uma peça brasileira sobre o 25 de abril em Portugal, espetáculo de abertura do 31º Fazer a Festa (Invocação) Festival Internacional de Teatro, uma iniciativa Teatro Art’Imagem.
A noite de 24 de abril, foi de teatro português com sotaque no Cine-teatro Constantino Nery. “Ruptura – Um Processo Revolucionário” é sobre a nossa Revolução, o nosso 25 de abril visto “à lupa” por uma companhia de teatro brasileira, uma iniciativa Teatro Art Ìmagem que foi o espetáculo de abertura do 31º Fazer a Festa – Festival Internacional de Teatro.
A Revolução dos Cravos, movimento que derrubou a ditadura salazarista em Portugal na década de 1970 e instaurou a democracia no país, é retratada na montagem brasileira com o apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, e leva aos palcos um dos mais importantes momentos da história recente portuguesa, que permanece praticamente desconhecido do público brasileiro.
Dirigida por Márcio Boaro e com dramaturgia assinada por este, a encenação prima pelo teatro épico e documental, fortemente influenciada pelo dramaturgo alemão Peter Weiss, ao qual faz referências com excertos de cenas do texto O Canto do Fantoche Lusitano, ainda inédito no Brasil, e recria toda a efervescência política e cultural daquele momento.
A companhia Ocamorana trouxe aos palcos um retrato fiel dos dias que antecederam o processo democrático em Portugal; das guerras coloniais na África; das angústias dos soldados do exército português, que levaram a cabo a revolução; do quotidiano de pessoas comuns, que após 30 anos de ditadura tiveram de aprender a lidar com a liberdade; e da reinvenção de uma nação que teve de pavimentar os caminhos da democracia. O espetáculo retrata, ainda, o que esse período tem em comum com os meses que antecederam as Diretas Já! no Brasil, exatamente dez anos após.
Em tempos em que a força popular toma as ruas pela liberdade em nível cada vez maior, partindo dos países árabes, passando pela Europa e chegando aos Estados Unidos e América Latina, o espetáculo da companhia Ocamorana trouxe ao palco do Cine-teatro Constantino Nery cena uma profunda reflexão sobre o quanto um processo revolucionário pode mudar concretamente a vida das pessoas, suas relações e abrir perspetivas de liberdade e de emancipação.