
06.06.11
Muitos dos forasteiros que visitavam o Senhor de Matosinhos estranharam o alarido provocado por uma coluna militar francesa que invadiu as principais ruas da Romaria, no passado dia 4 de Junho.
Liderados pelo Marechal Soult, os soldados de Napoleão saíram do acampamento montado nos jardins envolventes aos Paços do Concelho e desfilaram pelo Bairro dos Pescadores, Avenida D. Afonso Henriques e Praça Guilhermina Suggia, terminando o percurso no Adro da Igreja do Bom Jesus de Matosinhos.
No interior do templo, o Marechal Soult, em nome do Imperador, ofereceu ao Senhor de Matosinhos uma lâmpada em prata.
O episódio, recriado pela Câmara Municipal de Matosinhos, assinala os duzentos anos sobre as invasões francesas e a consequente ocupação da cidade do Porto e do Norte do país pelas tropas napoleónicas. Os acontecimentos remontam ao ano de 1809. A vinda do Marechal Soult, a figura mais importante do exército napoleónico, a Matosinhos constituiu, na altura, uma clara estratégia de propaganda. Com o intuito de apagar a imagem anticlerical que o exército francês possuía (celebrizada pelo saque às igrejas da região), o Marechal Soult tentou, com esta oferenda, agradar à população devota do Bom Jesus de Matosinhos. Todavia, o gesto não foi bem aceite pelos populares, dando origem a confrontos e apupos.
Segundo o historiador Joel Cleto, que, de resto, narrou os acontecimentos à medida que iam decorrendo, não existe, de facto, qualquer referência à oferta de uma lâmpada em prata por parte do Imperador Napoleão Bonaparte ao Bom Jesus de Matosinhos, nos registos paroquiais ou na Misericórdia.
Para Joel Cleto, tudo não terá passado de uma mera encenação pelo Marechal Soult, que “fez publicar folhetos dando conta da sua vinda, fez publicar um decreto em que anunciava a oferta da lâmpada e que tinha dobrado o salário ao sacristão, mas na prática foi mesmo só propaganda”.
A recriação histórica das invasões francesas em Matosinhos contou com a participação de mais de uma centena e meia de figurantes, entre os quais, colaboradores da Associação de Recriação Histórica de Arrifana e de grupos folclóricos e de teatro do Concelho de Matosinhos.
Esta iniciativa, já realizada em 2009, embora numa escala mais reduzida, é uma das reconstituições históricas que a Autarquia tem vindo a realizar, tais como o desembarque das tropas liberais na Praia da Memória ou os Hospitalários nos Caminhos de Santiago.
Esta recriação histórica das invasões francesas insere-se nas Festas do Senhor de Matosinhos e, como garantiu o Presidente da Câmara Municipal, Dr. Guilherme Pinto, será para "repetir todos os anos".
Presentes na iniciativa estiveram ainda o Vice-presidente da Autarquia, Dr. Nuno Oliveira, e o Vereador da Cultura, Fernando Rocha.
Conteúdo atualizado em9 de junho de 2011às 10:26
