
“Matosinhos à Conversa” homenageou poeta
A Câmara Municipal assinalou o Dia Mundial da Poesia com uma dedicatória ao poeta matosinhense Egito Gonçalves, no âmbito do ciclo “Matosinhos à Conversa”.
Moderada pelo poeta e jornalista Renato Filipe Cardoso, a conversa contou com a participação da Presidente da Autarquia, Luísa Salgueiro, do poeta e fotógrafo Jorge Velhote, e do escritor e editor, Manuel Alberto Valente, na qualidade de amigos de Egito Gonçalves.
O evento foi transmitido, no passado sábado, em direto na página de Facebook em virtude dos constrangimentos provocados pela pandemia por COVID-19.
Luísa Salgueiro sublinhou que a cultura tem sido uma aposta política da Câmara de Matosinhos, afirmando-se já como uma “marca identitária” do concelho. A edil referiu que, dentro da programação cultural, a poesia tem grande destaque, dando como exemplo a Festa da Poesia, o LEV- Literatura em Viagem, o Plano Municipal de Leitura, os laboratórios de poesia, as atividades das bibliotecas municipais, as sessões da Poesia Maldita, entre muitos outros projetos.
Egito Gonçalves, recorde-se, nasceu a 8 de abril de 1920 em Matosinhos. Estudou eletrotecnia, mas interrompeu os estudos para prestar serviço militar nos Açores em plena guerra mundial e regressou ao Continente e ao Porto onde, entre empregos diversos, conciliou a sua vocação poética com a intervenção política.
Os seus primeiros poemas datam de 1941, quando cumpria serviço militar em Ponta Delgada. Aderiu ao MUD (Movimento de Unidade Democrática) e participou na campanha do general Humberto Delgado. Iniciou a sua obra literária em 1950 com o livro "Poemas para os Companheiros da Ilha", logo seguido de "Um Homem na Neblina". Publicou, ainda, os livros "A Evasão Possível" (1952), "O Vagabundo decepado" (1957), "Memória de Setembro" (1957), "A Viagem com o Teu Rosto" (1958), "Os Arquivos do Silêncio" (1963) "O Fósforo na Palha" (1967), "O Amor desagua em Delta" (antologia, 1971) e "E no Entanto Move-se" (1995).
Ao longo de quase cinquenta anos de carreira literária, Egito Gonçalves deixou uma vasta e premiada obra poética a par de uma profunda e rigorosa atividade como tradutor.
O “Matosinhos à conversa” contou ainda com a declamação do poema de Egito Gonçalves "Notícias do Bloqueio", no âmbito do projeto “Expresso Poesia-Laboratório Poético”.
Escrito em 1952, este poema constitui um verdadeiro símbolo da oposição ao regime salazarista e traduz a empenhada intervenção política e cívica do poeta, bem notória quer antes quer depois do 25 de abril.
Egito Gonçalves foi um homem de cultura que, para além da poesia, intervinha nas pequenas e grandes causas, sempre ligado ao movimento associativo e cultural da cidade e do país, sempre disponível para dirigir e animar instituições como o Teatro Experimental do Porto, a Cooperativa Árvore, o Cineclube do Porto, a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, a Sociedade Portuguesa de Autores.
Premiado com frequência, inclusive por academias e instituições estrangeiras, foi-lhe outorgado em 1995 o Prémio de Poesia do Pen Clube, bem como o Grande Prémio de Poesia de Associação Portuguesa de Escritores pelo seu livro «E no Entanto Move-se». Tendo recebido diversas condecorações, foi em 1994 agraciado pelo Presidente da República com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Egito Gonçalves esteve ligado a várias revistas poéticas das muitas que surgiram nessa altura. Publicou alguns poemas seus na “Távola Redonda”, dirigiu “A Serpente” e fez parte da direção da Árvore.
Faleceu no Porto, a 29 de janeiro de 2001.
