
O Salão Nobre dos Paços do Concelho encheu-se ontem, dia 4 de Maio, para a apresentação do vencedor de mais uma edição do prémio Fernando Távora, um certame desenvolvido com o objectivo de promoção da arquitectura contemporânea portuguesa.
O prémio Fernando Távora surge de uma parceria entre a Câmara de Matosinhos – Centro de Documentação Álvaro Siza e a Ordem dos Arquitectos – Secção Regional Norte.
Atribuído anualmente, este prémio pretende homenagear e perpetuar a memória do arquitecto Fernando Távora, falecido em 2005, que influenciou sucessivas gerações de arquitectos, deixando a sua marca pessoal na conhecida “Escola do Porto”.
A sessão de apresentação do vencedor deste ano decorreu no Salão Nobre da autarquia e contou com a presença do Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto, e do Vereador da Cultura, Fernando Rocha.
Uma cerimónia precedida de uma breve conferência sobre o tema “A Viagem”, proferida por um dos elementos do júri – Prof. Dr. Arnaldo Saraiva.
Os membros do Júri para a 4ª Edição do Prémio Fernando Távora, presidido pela artista plástica Helena Almeida e constituído pelo Professor Doutor Arnaldo Saraiva pelos arquitectos João Luís Carrilho da Graça, Sergio Fernandez e Ana Maio (em representação da OASRN), deliberaram por unanimidade atribuir o Prémio Fernando Távora à proposta “Diário do Deserto – Namibe 2009” da arquitecta Cristina Salvador.
Cristina Salvador, nascida em 1947, propõe-se a visitar os espaços do Deserto do Namibe, partindo de Luanda até à cidade de Namibe e daí por estrada até ao Tombwa. Perto, em Njambasana, fica a sede do CE.DO – Centro de Estudos do Deserto, que será a “base” da viagem.
“O espaço do Deserto do Namibe, as fronteiras entre o Deserto e os assentamentos, entre o Deserto e o Mar, a travessia, o encontro e as trocas entre comerciantes e pastores e, por outro lado, o encontro e a troca de pesquisas antropológicas, económicas e espaciais, possíveis através do CE.DO, levam-me a fazer a mala e meter-me ao caminho.
Na preparação da viagem pensei em Nietzsche e na forma como remete o tema do Deserto para o vazio, para o desconhecido, no vazio de que temos uma poderosa necessidade de “encher” com a nossa própria presença, de o dominar. Pensei também no simbolismo do Deserto e nos mitos com ele relacionados, tais como o Burro (ou Camelo) – animais do Deserto (também eles niilistas?). Carregam, carregam com fardos até ao fim do deserto.”
O prémio Fernando Távora consiste na atribuição de uma bolsa de viagem, no valor único de 5 mil euros, para a melhor proposta de viagem de investigação apresentada.
Ao prémio deste ano, candidataram-se 30 projectos de arquitectos inscritos na Ordem, um número que confirma o interesse crescente na bolsa de investigação.
O Júri congratulou-se com a qualidade da maior parte das propostas concorrentes e reconheceu que o trabalho premiado se distingue por corresponder da melhor maneira aos objectivos do Prémio e à própria ideia de viagem defendida por Fernando Távora, especialmente no que respeita à “extraordinária capacidade de investigar sobre o sentido das coisas, as suas raízes, a grande curiosidade pelo outro, ancorada numa forte ligação ao seu contexto de origem, na defesa da dignidade do homem, e respeitador das suas diferenças”; pela qualidade da sua escrita, marcada pela clareza e pela síntese e pela originalidade da proposta – “analisar a forma como os pequenos comerciantes, atravessando regularmente o deserto com os seus burros e carregamentos em busca de pastores, são os primeiros organizadores do território e saber quais são as questões que essa organização levanta”, “aí onde a intervenção do homem são indícios, marcas, traços e encontros sazonais, tendo por base o que aparentemente parece ser uma actividade económica reduzida mas regular e reguladora, mais do que em cidades e periferias, onde na maior parte dos casos o essencial está fragmentado, disperso ou fortemente condicionado”.
Matosinhos é uma terra de grandes Arquitectos e excepcionais obras de arquitectura, fazendo parte dos roteiros internacionais de Arquitectura.
A actividade de Fernando Távora enquanto arquitecto e pedagogo consolidou, em Portugal e no estrangeiro, em sucessivas gerações, a ideia de que o conhecimento da história e da cultura são indispensáveis para a produção da arquitectura contemporânea. Desde estudante e durante toda a sua vida, Fernando Távora viajou incessantemente para estudar "in loco" a arquitectura de todas as épocas em todos os continentes, utilizando-a desde 1958 até 2000, como conteúdo e método da sua actividade pedagógica.
O projecto vencedor será apresentado em conferência pública no Dia Mundial da Arquitectura, do corrente ano – 5 de Outubro.

