“Percursos - Barro negro, castanho, ferro, granito”

 

De comboio e de autocarro, as viagens de Linde Burkhardt a Trás-os-Montes e às Beiras, recomendadas por Álvaro Siza, seu amigo há mais de 30 anos, permitiram-lhe descobrir a cerâmica tradicional ainda em produção. Inspirada pelas peças em barro negro fabricadas por artesãos, a artista criou trabalhos em pedra, madeira, aço e barro negro (trabalhado por Carlos Lima e Xana Monteiro), às quais juntou penas de ganso e de galinha, dando uma nova roupagem às tecedeiras, tulhas e objetos de cozinha.
“As minhas pálidas conceções sobre Portugal inesperadamente ganharam cor através de Álvaro Siza, dos meus amigos e de mim mesma. Uma calorosa amizade foi-se estabelecendo entre nós desde 1976”, revela.

 

Linde Burkhardt, considerada uma referência no design europeu, estudou arte em Zurique, Berlim e Hamburgo. Foi professora de Teoria do Design e Design Artístico na Universidade de Bielefeld, na Alemanha. Atualmente, divide o seu tempo entre Itália, França e Alemanha, países onde leciona, organiza exposições e exerce uma intensa atividade de crítica de design e arquitetura.

 

Os seus trabalhos podem ser vistos desde o dia 18 de fevereiro na Galeria Municipal de Matosinhos. Uma parte da exposição de Linde Burkhardt é dedicada ao universo de Fernando pessoa. Quatro tapeçarias representam e homenageiam o poeta e os seus heterónimos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. “ (Álvaro Siza) Recomendou-me a leitura da obra de um certo escritor português. Não consegui ler tudo, pois nem toda a obra estaria traduzida. Fernando Pessoa enfeitiçou-me fortemente. E foi através de Antonio Tabucchi que mais tarde percebi que Fernando Pessoa é efetivamente um dos mais importantes escritores do século XX”, afirma.

 

A inauguração contou com a presença da autora, Linde Burkhardt, do arquiteto Álvaro Siza, do Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Guilherme Pinto, e do Vereador da Cultura, Fernando Rocha.

 

O arquiteto Álvaro Siza sublinhou que se tratou de “um projeto feliz”. “São objetos que eu nunca vi. São como personagens, figuras humanas. No início, estranha-se, mas depois passam a ser familiares. A Linde inventa a partir do que existe. Estas imagens invulgares são feitas com matérias utilizadas da forma tradicional”, referiu.

 

Para o Presidente da Autarquia, “era irrecusável ter aqui esta exposição”, pois “era uma oportunidade única”. “Esta exposição é um hino à portugalidade. Como é que alguém que vem do exterior consegue provocar as nossas memórias mais íntimas. A Linde veio lembrar-nos o que de bom nós temos”, frisou o Dr. Guilherme Pinto.
A exposição de Linde Burkhardt está patente na Galeria Municipal até ao dia 20 de março.