20.11.12
Depois da participação no Encontro “LEV- Literatura em Viagem”, o escritor angolano regressou à Biblioteca Municipal Florbela Espanca para apresentar o seu mais recente romance.
Personagens fictícias e reais, amigos e desconhecidos, retratam “histórias que representam o que Luanda tem de surreal”, contou Ondjaki, ontem, dia 19 de Novembro, na sessão oficial de lançamento de “Os Transparentes”, com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Guilherme Pinto.
Considerado “um dos grandes nomes da literatura de Angola com grande projeção no exterior”, nas palavras do Vereador da Cultura, Fernando Rocha, que apresentou o livro, Ondjaki confessou que a ideia surgiu nos anos 90 como um conto em torno de uma família que se torna transparente, ampliado posteriormente com novas personagens, que representam os diversos grupos sociais da sociedade angolana.
Editado pela Caminho, o livro retrata a Luanda atual do pós-guerra, das especificidades, do «progresso», dos grandes negócios, do «desenrasca» . As reflexões recolhidas entre 2001 e 2009, segundo Ondjaki, “espreitam um pouco do ritmo surreal de Luanda”, “uma cidade degradada e ao mesmo tempo moderno”.
Em "Os transparentes", Ondjaki combina com mestria vários registos literários como o lírico, o humorístico e o sarcástico. “Odonato virou as mãos para si mesmo e falava olhando só para elas – um homem, para falar dele mesmo, fala das coisas do início... como as infâncias e as brincadeiras, as escolas e as meninas, a presença dos tugas e as independências... e depois, coisa de ainda há pouco tempo, veio a falta de emprego, e de tanto procurar e sempre a não encontrar trabalho... um homem para de procurar para ficar em casa a pensar na vida e na família. no alimento da família. para evitar as despesas, come menos... um homem come menos para dar de comer aos filhos, como se fosse um passarinho... e aí me vieram as dores de estômago... e as dores de dentro, de uma pessoa ver que na crueldade dos dias, se não tem dinheiro, não tem como comer ou levar um filho ao hospital... e os dedos começaram a ficar transparentes... e as veias, e as mãos, os pés, os joelhos... mas a fome foi passando: foi assim que comecei a aceitar as minhas transparências... deixei de ter fome e me sinto cada vez mais leve... estes são os meus dias... e voltou a olhar cada um nos olhos, incluindo o Cego – este é o corpo que eu agora tenho – levantou-se para voltar ao seu lugar”, lê-se no livro.
Nascido em 1977 em Luanda, Ondjaki tem obras traduzidas em francês, espanhol, italiano, alemão, inglês, sérvio, sueco e chinês. Além da prosa e da poesia, o autor angolano co-realizou um documentário sobre a cidade de Luanda (“Oxalá Cresçam Pitangas – Histórias de Luanda”).
Membro da União dos Escritores Angolanos, foi galardoado com Prémio Literário Sagrada Esperança 2004 (Angola), Prémio Literário António Paulouro 004, Grande Prémio de Conto «Camilo Castelo Branco» C. M. de Vila Nova de Famalicão/APE 2007, Grinzane for Africa Prize – Young Writer 2008, Prémio FNLIJ Brasil 2010, Prémio Bissaya Barreto de Literatura para a Infância, 2012.
“Os Transparentes” sucede-se a obras como “O Assobiador”, “Quantas Madrugadas Tem a Noite” e “A Bicicleta Que Tinha Bigodes”.
“Por aquilo que conheço do autor, não tenho dúvidas de que será um romance excelente”, concluiu o Vereador da Cultura, Fernando Rocha.
O lançamento de “Os transparentes”, promovido pela Câmara Municipal de Matosinhos, em parceria com a Editorial Caminho, integra a “Promoção do Livro e da Leitura”, projeto que visa criar condições que proporcionem a aproximação e o contacto direto entre autor e público, promovendo a troca de informação, de sensibilidades e experiências.
Conteúdo atualizado em20 de novembro de 2012às 11:29
