Lançamento de livro de José Rentes de Carvalho na Biblioteca Municipal Florbela Espanca.
«Mazagran, palavra que outrossim não se encontra no texto, designa uma bebida favorita no Maghreb: um copo grande cheio até mais de um terço com café forte, um volume igual de água gasosa, muito açúcar, uma rodela de limão. Quando o Profeta abranda a sua vigilância junta-se-lhe um cálice de conhaque. Bebe-se quente no Inverno e quase gelada nos dias de calor. A pequenos goles. Com aquela disposição benigna do espírito que umas vezes nos leva à rua para cavaquear com os amigos, e outras nos prende em casa a ler um livro.»
As palavras são de José Rentes de Carvalho e constituem o mote para o seu mais recente livro “Mazagran – recordações e outras fantasias”, lançado no passado dia 26 de Outubro, no auditório da Biblioteca Municipal Florbela Espanca, na presença do Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Matosinhos, Fernando Rocha.
José Rentes de Carvalho nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia, onde viveu até 1945. Obrigado a abandonar o país por motivos políticos, viveu no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris. Em 1956, passou a viver em Amesterdão, na Holanda, como assessor do adido comercial da Embaixada do Brasil. Licenciou-se (com uma tese sobre Raul Brandão) na Universidade de Amesterdão, onde foi docente de Literatura Portuguesa entre 1964 e 1988. Em 2012, foi galardoado com o Grande Prémio de Literatura Biográfica APE/Câmara Municipal de Castelo Branco 2010-2011 com o livro “Tempo Contado”.
Editado em português, pela Quetzal Editores, o livro reúne crónicas e cartas publicadas ao longo de anos em dois jornais holandeses.
“À infância ninguém retorna e o passado perde-se sem remédio, mas por repentes toma-me a vontade de voltar à terra onde nasci e lá, tirando da prateleira da cozinha um copo grosseiro, sentar-me num escabelo junto da pipa e beber como dantes: sem ciência nem medo de errar, só por gosto”, lê-se na obra de José Rentes de Carvalho.
A apresentação do livro esteve a cargo do historiador, “amigo e admirador”, Joaquim Gonçalves Guimarães, que realçou a qualidade da “literatura que espelha o tempo em que vivemos”.
“Este livro é uma espécie de garrafeira de bons vinhos. Não podemos abrir todas as garrafas de uma vez. Vamos abrindo e saboreando aos poucos cada uma”, referiu o historiador.
Por fim, José Rentes de Carvalho, que respondeu no final da apresentação a perguntas colocadas pelo público e presenteou os seus leitores com uma sessão de autógrafos, confessou que o seu “maior prazer é comunicar” através dos livros que escreve.