Manuel Dias da Fonseca, melómano, intelectual e figura ímpar da cultura portuguesa, teria feito 92 anos, ontem, domingo, dia 6 de dezembro. Esta foi, por isso, a data escolhida pela Câmara Municipal de Matosinhos para um recital de homenagem àquele que foi também um dos mais marcantes vereadores da Cultura da autarquia, recentemente falecido.
Música, muita música, amigos, família, admiradores, uma exposição documental e muitas memórias de Dias da Fonseca. Foi assim um fim de tarde especial em torno de um homem especial.
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A homenagem, com início marcado para as 17 horas, começou com a inauguração da exposição sobre a sua vida e obra, onde podem ser vistas fotografias, livros, artigos de jornais, discos e muitos objetivos pessoais que fizeram parte do seu dia a dia. Esta exposição está patente no átrio da Câmara Municipal até ao dia 6 de janeiro de 2016.
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A sessão de homenagem continuou no salão nobre dos Paços, espaço que tantas vezes foi palco dos concertos de música clássica que Dias da Fonseca organizou, e contou com a estreia mundial de uma peça do compositor Cândido Lima, “Diálogo musicais com um homem singular”, numa partitura editada pela Câmara Municipal de Matosinhos.
A iniciativa incluiu ainda o lançamento do CD “Canções Populares Portuguesas de Fernando Lopes-Graça”. A capa do CD conta com uma ilustração original do arq. Álvaro Siza Vieira.
No capítulo musical, a homenagem contou, para além de Cândido Lima, com a atuação de António Rosado (que interpretou a “Suite nº5” de Fernando Lopes-Graça), Jaime Mota, Margarida Reis e Job Tomé (que interpretaram canções populares portuguesas de Fernando Lopes-Graça), e do Quarteto de Cordas de Matosinhos, de cuja fundação Manuel Dias da Fonseca foi um dos impulsionadores. Acompanhada por Miguel Borges Coelho, aquela que já é uma das mais importantes formações europeias de cordas interpretou o último andamento de “Quinteto para piano e quarteto de cordas em Fá menor, op 34”, de Johannes Brahms.
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Marcaram presença nesta homenagem o Presidente da Câmara, Guilherme Pinto, a Presidente da Assembleia Municipal, Palmira Macedo, o Vice-Presidente da Câmara, Eduardo Pinheiro, e o vereador José Pedro Rodrigues. Em representação da família, José Manuel Dias da Fonseca, sobrinho do homenageado, falou do melómano, do professor, do vereador mas, sobretudo, do tio que com 15 anos o levou num périplo de mês e meio pela Europa e que, com 91 anos, ainda esperava por cada catálogo de museus que o sobrinho faz questão de visitar em cada viagem que faz.
“O Manuel Dias da Fonseca é um grande melómano: verdadeiramente culto, ouviu tudo, leu tudo, compreendeu tudo. A sua discoteca e biblioteca musical foi local de descoberta, de surpresa, de prazer, construída ao longo de décadas com uma sabedoria e abertura imensas, verdadeiro oásis de quem procurava ou de quem estava disponível para ouvir. Foi e é um homem do seu tempo. Sempre jovem, sempre atento ao que se faz hoje, muito pouco dado às nostalgias do passado. É também por isso que os seus amigos são sempre jovens. E quantas gerações sempre renovadas tiveram nele o Professor, o Pedagogo, o Amigo.
Democrata no sentido mais etimológico da palavra. Na política, na cultura, nunca usou a sua poderosa memória para impor mas sim para abrir mentalidades, para lembrar que há sempre um outro, ou outros. Com a música no centro, ao arrepio da elite portuguesa, pouco dada às músicas, nenhuma disciplina lhe escapou, como grande intelectual que é: as artes, a filosofia, as ciências, as literaturas, a política, a história, o cinema. Publicou três livros de poesia, há muito esgotados: A solidão Povoada, 1953; A noite, um dia, um rio, 1956 e Talvez origem, 1976. Nos anos 80 assumiu o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Matosinhos, numa altura em que a cultura estava arredada das preocupações autárquicas. Desassombrado, Manuel Dias da Fonseca, entregou-se de corpo e alma às funções de autarca, criando públicos, definindo estratégias. A sua ação e determinação, deram frutos, frutos que chegaram até aos nossos dias". Este texto da autoria de José Manuel Dias da Fonseca dá a conhecer um pouco o homem que marcou a Cultura em Matosinhos mas também todos aqueles que tiveram o privilégio de consigo conviver.
Para Fernando Rocha, “O Manuel era a música e a música era a vida do Manuel. Com ele concretizei o seu último sonho e derradeiro amor: a criação do Quarteto de Cordas de Matosinhos. Rejubilava com “os Músicos”, como carinhosamente os tratava, para quem preparou programas e fez deles uns “rising stars”, explicou o Vereador da Cultura de Matosinhos.
Para o Presidente da Câmara, Guilherme Pinto, “Matosinhos dificilmente poderá prestar homenagens suficientes a Manuel Dias da Fonseca. Homem cultíssimo e interessado por tudo o que o rodeava, foi um dos maiores intelectuais portugueses do seu tempo. Para felicidade nossa, foi também vereador da Cultura da Câmara Municipal de Matosinhos, moldando de forma decisiva as preocupações e as políticas imateriais da autarquia, tendo sido responsável, entre outras coisas, pela formação do quarteto de cordas que é hoje o maior embaixador da cidade pelas principais salas de concerto da Europa. Sem ele, Matosinhos seria decerto muito diferente. E menos interessante. Cumpre-nos, pois, manter vivo o seu legado.”
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