
Terra. Mar. Movimento. Cultura. Matosinhos. Mariza.
No dia 5 de Julho à noite, a imensa Marginal de Matosinhos tornou-se exígua para os milhares de pessoas que responderam ao repto lançado pela Câmara Municipal de Matosinhos: ouvir a voz única e inconfundível da nova diva do fado e da world music, Mariza, com o seu novo álbum, Terra, tendo como cenário o mar, a praia e a cidade.
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E Mariza não deixou “créditos em mãos alheias”. Mostrou porque é que é a nova diva do fado, conquistando o vasto público que encheu a Marginal de Matosinhos, desde o primeiro acorde.
Tal como a biografia oficial da cantora refere, Mariza conquistou, à força de alma e de garganta, de disciplina e de trabalho, o estatuto das grandes cantoras universais – Amália, Piaf, Elis, Ella, Garland e mais uma mão-cheia de mulheres a quem basta um nome para o reconhecimento imediato e entusiasmado. É nosso dever, e é nossa salvação, aprender a partilhá-la. Amarrá-la a uma só forma, mesmo que ela tenha os contornos de grandeza e arrepio do nosso Fado, seria criminoso, por toda a grandeza desperdiçada sem préstimo. Melhor é deixá-la voar livremente, para termos a certeza de que volta a casa. Eis o código de acesso, as ilimitadas fronteiras, o perfil psicológico de “Terra”, o novo disco, o primeiro de um novo ciclo, a primeira obra-prima de uma respiração diferente.
Sendo inegável que é o Fado o tronco central da música a que Mariza dá voz, a seiva que nele corre é de uma renovação contínua, pelas experiências sonoras já ensaiadas em discos anteriores – “Fado em Mim” (2001), “Fado Curvo” (2003), “Transparente” (2005) e “Concerto Em Lisboa” (2006), mais o DVD “Live In London” (2004), todos eles abençoados com uma multiplicação de galardões de Platina – ou pelos autores e produtores escolhidos.
O que acontece em “Terra” é um convite da guitarra portuguesa e da viola de Fado à guitarra de um inglês, Dominic Miller (parceiro de Sting há vinte anos), aos pianos de um brasileiro, Ivan Lins, e dois cubanos, Chucho Valdês e Ivan “Melon” Lewis, à guitarra flamenca de um espanhol, Javier Limón, à percussão de outro espanhol, Piraña (percussionista eleito de Paco De Lucia).
O que se passa em “Terra” é a comunhão perfeita da voz de Mariza com as do cabo-verdiano Tito Paris e da afro-hispânica Concha Buika. O que tem lugar em “Terra” é a passagem de testemunho do produtor, facto que parece quase um requisito de Mariza, para evitar repetições: depois de Jorge Fernando veio Carlos Maria Trindade, rendido por Jacques Morelenbaum, para agora entrar em cena Javier Limón.

