02.10.12
Obra poética do autor e “Uma Entrevista com o Poeta” de Manuela Espírito Santo: dois livros apresentados em simultâneo no Dia Internacional da Música.
A sala principal do Cine-Teatro Constantino Nery encheu-se na noite de ontem, dia 1 de Outubro, Dia Internacional da Música, para se falar da vida e obra de Manuel Dias da Fonseca. Amigos, família, alunos, admiradores, cidadãos de Matosinhos que conhecem e reconhecem um percurso de vida que orgulha a cidade juntaram-se para uma homenagem àquele que foi autarca, professor, intelectual e grande melómano, muito para além do seu tempo.
Manuel Dias da Fonseca é um homem invulgar. Seguramente um dos grandes intelectuais do século XX português, que uma permanente e militante discrição deu o exclusivo da sua atenção aos amigos, aos alunos, aos sobrinhos, a muitos e muitos jovens e a muitos e muitos públicos anónimos que ajudou a construir e a crescer.
A música clássica foi sempre a sua companheira. O Manuel Dias da Fonseca é um grande melómano: verdadeiramente culto, ouviu tudo, leu tudo, compreendeu tudo. A sua discoteca e biblioteca musical foi local de descoberta, de surpresa, de prazer, construída ao longo de décadas com uma sabedoria e abertura imensas, verdadeiro oásis de quem procurava ou de quem estava disponível para ouvir.
A música clássica foi sempre a sua companheira. O Manuel Dias da Fonseca é um grande melómano: verdadeiramente culto, ouviu tudo, leu tudo, compreendeu tudo. A sua discoteca e biblioteca musical foi local de descoberta, de surpresa, de prazer, construída ao longo de décadas com uma sabedoria e abertura imensas, verdadeiro oásis de quem procurava ou de quem estava disponível para ouvir.
Foi e é um homem do seu tempo. Sempre jovem, sempre atento ao que se faz hoje, muito pouco dado às nostalgias do passado. É também por isso que os seus amigos são sempre jovens. E quantas gerações sempre renovadas tiveram nele o Professor, o Pedagogo, o Amigo. Nascido em Matosinhos, a 5 de Dezembro de 1923, Manuel Dias da Fonseca sempre foi homem ligado à música clássica, que explorou, no entanto, áreas tão diversas como as artes, a filosofia, as ciências, as literaturas, a política, a história, o cinema.
Na década de 80, assumiu o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Matosinhos, numa altura em que a cultura estava arredada das preocupações autárquicas. Desassombrado, Manuel Dias da Fonseca entregou-se de corpo e alma às funções de autarca, criando públicos, definindo estratégias.
Foi pelo seu percurso como autarca, intelectual, e cidadão, e pela consciência do seu inegável e justo prestígio, que a Câmara Municipal de Matosinhos lhe atribuiu, em 21 de maio de 2007, a Medalha de Honra, em ouro, e o título de cidadão honorário de Matosinhos.
A Câmara Municipal e a Modo de Ler- Centro Literário Marinho apresentaram ontem duas obras literárias dedicadas a Manuel Dias da Fonseca.
A primeira- “Obra poética”- é da autoria do próprio Manuel Dias da Fonseca, e reúne na mesma edição três livros há muito esgotados: "Solidão Povoada” (1953), “A noite, um rio, um dia” (1956) e “Talvez origem” (1976).
A segunda, “Uma Entrevista com o Poeta”, da autoria de Manuela Espírito Santo, esteve para acontecer há mais tempo, como a própria explicou. “Mas as coisas só acontecem quando têm de acontecer, não é, Manuel?”, perguntou a autora num tom carinhoso ao poeta, antevendo-se uma relação de grande cumplicidade e amizade entre entrevistadora e entrevistado, resultante de longas conversas “sem filtros”. Manuela Espírito Santo falou do homem, da sua sincera humildade, ainda hoje bem denotada na forma como abnegadamente recebeu esta homenagem, da sua capacidade de gostar, de ser feliz, de viver, de conhecer o mundo, de se relacionar com as pessoas e de amar profundamente a música, a poesia e as artes.
“A primeira conversa foi conduzida por mim. Na segunda tentei seguir o “guião”, mas o Manuel pegou na palavra e foi pelos caminhos que quis. Por isso, as memórias do Manuel“ enquanto fala” podem parecer caóticas ou labirínticas. Ganha-se em espontaneidade o que terá faltado em liderança. A vida é um jogo de equilíbrios. Também aqui foi deliberado. À medida que a viagem avançava, a nossa intimidade entrelaçava ramos. E assim, nessa folhagem cúmplice, falámos de tudo, sem filtros. Sem auto-censura. O que surge, o Manuel sabia, é trabalho escorchado, limpo, de muitas horas de conversa. O resto, para além do que aqui se publica, ficará comigo”, conta Manuela Espírito Santo que terminou com um “gosto de si, Manel!”
“Manuel Dias da Fonseca marcou a cultura da sua cidade e da Área Metropolitana com esta forma percursora de arrostar a incompreensão de muitos para formar públicos que um dia justificassem a aposta. Ganhou. E fê-lo num tempo em que era muito difícil fazer vencer tais pontos de vista”, afirma o Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Guilherme Pinto, que assina o prefácio da obra “Uma entrevista com o Poeta” de Manuela Espírito Santo.
O autarca destacou o “espírito de engajamento do Manel em relação à vida”. “É um curioso, o que o levou sempre a viajar pelo mundo. Foi um pedagogo muito especial porque a pedagogia dele foi muito para além da função de professor. A teimosia em criar públicos para a cultura na Área Metropolitana do Porto através de Matosinhos deu frutos que ainda hoje perduram. Um dos sonhos mais antigos do Manuel Dias da Fonseca está cumprido: criamos o Quarteto de Cordas de Matosinhos. Mas ainda falta um que tudo faremos para cumprir: um órgão a tocar música sacra na Igreja do Senhor de Matosinhos”, referiu o Dr. Guilherme Pinto que teve ao seu lado o vereador da Cultura, Fernando Rocha.
Os livros “Obra poética” e “Uma Entrevista com o poeta” foram apresentados por Sofia Lourenço, professora da Escola Superior de Música do Porto.
Na sessão, foram ainda declamados alguns poemas de Manuel Dias da Fonseca pelo ator António Durães, seguindo-se um momento musical protagonizado por António Rosado, Jed Baralhal e Christina Margotto e ainda o Quarteto de Cordas de Matosinhos.
Conteúdo atualizado em2 de outubro de 2012às 11:31
