
Grande afluência de público nesta 11.ª edição do Literatura em Viagem
A décima primeira edição dos LEV-Literatura em Viagem começou sob a influência dos clássicos. Depois de Carlos Fiolhais ter, na conferência inaugural, revelado a predileção de Albert Einstein por Cervantes e Dostoievski, os primeiros debates deste sábado voltaram a revisitar as grandes matrizes da literatura e da cultura. Rachel Cusk e Tânia Ganho olharam para as obras que compõem o cânone ocidental, enquanto Hélia Correia e Frederico Lourenço conduziram a viagem no tempo e no espaço que levou a plateia repleta da Biblioteca Municipal Florbela Espanca até ao exemplo da Grécia Antiga.
No primeiro debate da tarde, Tânia Ganho e a canadiana Rachel Cusk partiram de Shakespeare e coincidiram em considerar que a leitura dos clássicos mantém o seu interesse pela utilidade e pela emoção que ainda traduzem e que os tornam perenes e resistentes ao tempo. A escritora e tradutora portuguesa recordou, aliás, que se vê obrigada a regressar constantemente a essa matriz, uma vez que as obras que traduz, embora atuais, continuam impregnadas das grandes referências do passado.
A conversa também passou por autores mais recentes, com Tânia Ganho a propor uma nova de fazer chegar os clássicos às gerações mais jovens e a questionar o facto de o cânone literário ser demasiado branco, masculino e europeu.
Na segunda mesa, a vencedora do Prémio Camões em 2015 manifestou a sua deceção pelo facto de o exemplo dos gregos antigos – que parecia, há alguns anos, estar a ser recuperado pelo inconformismo e resistência dos gregos da atualidade – não ter hoje qualquer tradução real. “Regressar à Grécia Antiga é apenas regressar ao belo e à medida humana”, disse Hélia Correia, para quem a palavra “democracia” hoje usada ser uma espécie de engano relativamente ao que significava para os antigos gregos.
Já Frederico Lourenço, vencedor da mais recente edição do Prémio Pessoa, considerou que, longe do exemplo da Grécia Clássica, assistimos hoje ao avanço do obscurantismo e do conformismo. Defendeu, por isso, a necessidade de regressarmos ao exemplo de debate de todas as ideias, à sua discussão até às últimas consequências, conforme era prática dos filósofos da antiguidade.
Mais distante dos paradigmas europeus está a exposição inaugurada na galeria da Biblioteca Municipal Florbela Espanca, “Oriente em Viagem”, que apresenta um conjunto de imagens fotográficas captadas por Ricardo Fonseca em lugares da Ásia anteriormente visitados, por exemplo, por Fernão Mendes Pinto, mas também pela misteriosa e mística república do Nepal.
A terceira mesa foi dedicada a duas novas vozes da literatura europeia: Árpád Kollár, um sérvio a viver na Hungria, e Juana Addock, uma mexicana a viver na Escócia, falaram sobre as respetivas experiências e sobre a realidade de viver numa Hungria que ergue muros e numa Escócia que o Brexit pode separar da Grã-Bretanha.
Com Álvaro Siza Vieira ausente, a última mesa da tarde serviu para apresentar a nova edição do livro “Retratos de Siza”, do jornalista Valdemar Cruz, que conversou com o arquiteto italiano Roberto Cremascoli, um dos maiores especialistas na obra do Pritzker português e comissário da mais recente exposição dedicada ao arquiteto na Bienal de Veneza.
O segundo dia do LeV terminou esta noite com a entrevista de vida ao jornalista e escritor Rodrigo Guedes de Carvalho, que apresentou em Matosinhos o seu mais recente romance, “O Pianista do Hotel”.
A décima primeira edição do festival literário continuará amanhã, tendo como cabeça de cartaz o inglês David Mitchel, cujo “Cloud Atlas” (Editorial Presença, 2012) esteve na lista final do prestigiado Booker Prize e foi mesmo objeto de uma adaptação ao cinema. Mas o programa para domingo tem ainda lugar para um olhar sobre a Europa a partir da perspetiva do escritor, artista plástico e ministro da Cultura de Cabo Verde, Abraão Vicente, num debate que contará também com o espanhol José Manuel Fajardo. Mais ao final da tarde, Jesús Carrasco e Xavi Ayén debaterão o melting pot literário europeu, enquanto Ana Margarida de Carvalho e João Tordo debaterão o impasse político da Europa e os efeitos do protecionismo sobre a literatura.
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