
A 5ª edição do LEV está aí. De 17 a 20 de Abril a Biblioteca Municipal Florbela Espanca e a Galeria Municipal são o palco deste grandioso evento que reúne alguns dos mais importantes nomes da literatura do mundo.
Este é um dos mais importantes encontros literários do nosso país que, ano após ano, não perde o seu fulgor.
A nuvem de cinza vulcânica que está a afectar toda a Europa motivou algumas ausências de ilustres convidados, entre eles, o aclamado jornalista Robert Fisk, o escritor italiano Mimmo Cándito, o conselheiro especial do ministro da Cultura de Itália, Giuliano da Empoli, e o poeta tunisino Hubbert Haddad.
Apesar das faltas motivadas pela intempérie, a iniciativa começou no passado sábado, 17 de Abril, envolvida em grande entusiasmo.
A sessão de abertura decorreu pelas 15h00 no Salão Nobre dos Paços do concelho com a conferência de José Medeiros Ferreira e o lançamento da revista “Itinerâncias”.
Foi Cândida Pinto quem iniciou a ronda de painéis. A repórter da SIC falou do "ser humano sem capas e sem máscaras", que só em situações de limite é possível encontrar: "Encontramos o melhor e o pior, a bondade absoluta e as coisas mais terríveis que possam imaginar". No difícil trabalho de um jornalista de guerra ("vivemos como se os nosso pés não tocassem no chão, porque tudo está alterado", conta), uma coisa é imprescindível: A bagagem histórica.
O segundo painel do dia -"As viagens são os viajantes" -, contou, entre outros, com o escritor Nuno Silveira Ramos. O escritor, com uma vida entre três continentes - Europa, África e Ásia -, diz continuar sem saber a que terra pertence ("Sou provavelmente um cidadão do mundo") e estabelece uma teoria: "Quando viajo estou a inventar países, a Angola que eu conheço não é a mesma que os outros conhecem".
O destaque internacional do dia foi marcado por Lourenço Mutarelli. O brasileiro, contou que a primeira vez que saiu do Brasil foi para viajar para Lisboa, destino que acabaria por se transformar no preferido do autor de banda-desenhada. "Viajei para muitos locais, mas só Portugal me marcou".
No dia 18, a improvisação tomou conta do evento e todos os presentes tentaram dinamizar o mais possível os painéis com participações inesperadas.
A mesa redonda sob o tema “Percebo-me viajando”, despertou uma diversidade de opiniões. Os arquitectos Alexandre Alves da Costa e Júlio Moreira e o escritor Guillermo Martinez, um dos poucos autores estrangeiros que conseguiu chegar a Portugal, coincidiram na ideia de que as viagens fazem parte da construção pessoal e de que são imprescindíveis para a preservação da memória.
“Escrever é extremamente importante para a memória”, defendeu Júlio Moreira, que apontou “a inter-relação entre dois conceitos independentes: introspecção e viagem” como inevitável, pois “a introspecção é uma viagem no interior de si próprio”.
“O Sonho de África”, painel onde grande parte dos convidados esteve em falta, devido ao encerramento dos aeroportos, centrou-se na existência de “vários sonhos de África” e de “várias Áfricas muito distintas”, ideia defendida pelo escritor e cronista Jacinto Rego de Almeida.
Ainda em conversa sobre o continente africano, Marcelo Correia Ribeiro, reiterou que o “sonho de África começou com o império” e, por isso, é “um sonho construído”. Por sua vez, o antropólogo e investigador Carlos Almeida, defendeu que “O Sonho de África” é “um tópico europeu” e que, para se conhecer o verdadeiro sonho africano, é necessário deixar de lado a ponto de vista da Europa e “deixar que as vozes africanas falem sobre África”.
A par da programação muito diversa, destacam-se, ainda, a inauguração da exposição de fotografia “A última fronteira” de Gonçalo Rosa da Silva e o lançamento dos livros “Bute daí” de Filomena Marona Beja e “Acerca de Roderer” de Guillermo Martinez, na Galeria Municipal, bem como a peça “Relativamente”, patente no Cine-Teatro Constantino Nery, com encenação e interpretação de João Lagarto e com os actores António pedro Cerdeira, Isabel Montellano e Patrícia Tavares.
O LEV, enquanto encontro, não só literário, mas iminentemente cultural, contribui de forma crescente não só para o desenvolvimento de iniciativas ligadas à literatura, fotografia, teatro e cinema, mas também para um reconhecimento cada vez maior de Matosinhos enquanto município de Cultura, receptivo a iniciativas de âmbito cultural e social.
Estiveram presentes nesta iniciativa o Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto e o Vereador da Cultura, Fernando Rocha, que destacou o facto de Matosinhos ser durante quatro dias «uma enorme plataforma intercultural», capaz de conjugar as diferentes áreas culturais.
A programação segue hoje, 19 de Abril, com workshops, lançamento de livros e a mesa com o tema “Viajar prolonga a vida”. Sem dúvida, um excelente pretexto para se deslocar até Matosinhos. Visite-nos e deixe-se envolver em toda esta teia literária.


