A lenda de Cayo Carpo, que terá estado na origem do nome de Matosinhos e da utilização das vieiras pelos peregrinos dos Caminhos de Santiago, volta a ser recriada de 16 a 18 de junho na Praia do Titã junto Senhor do Padrão.
Lvsitanos:
Com a graça de Neptuno, deste areal na foz do rio Leça onde é a praia de Matosinhos manda Mercúrio que vos comunique que as legiões aqui voltarão a reunir-se já entre os dias 16 e 18 deste mês de junho, para outra vez ser celebrada a festança que recorda a lenda de Cayo Carpo, palaciano nosso. Haverá folguedos vários em torno do zimbório do Senhor do Padrão, acabado de restaurar, e, como manda a lei, à sua auspiciosa sombra será montado o habitual mercado de produtos do império. Júpiter seja louvado.
Matosinhos regressará ao ano de 44 da era cristã e ao dia do casamento de Cayo Carpo com a nobre e mimosa Cláudia Lobo, quando, achando-se o palaciano a cavalgar na praia em companhia de outros mancebos, entrou a cavalgadura dele pelo mar adentro, levando o nobre Cayo sem que nada pudesse refreá-los ambos. Tendo os demais convivas ficado no areal em naturais ânsias, dou fé que viram regressar o sobrenatural cavaleiro passado algum tempo; e que Cayo trazia as vestes matizadinhas de conchas e afirmando ter visto passar ao largo o corpo de São Tiago a caminho de Compostela, lugar onde hão de quedar-se, "per omnia secula seculorum", as suas relíquias sagradas. Que Júpiter, deus do universo todo, nos não escute agora, mas Cayo Carpo regressou não apenas coberto de conchas, mas de igual modo maravilhado pelo miraculoso encontro com os restos mortais do santo homem e, deste jeito, convertido à fé dos cristãos.
A lenda de Cayo Carpo volta, deste jeito, a ser reconstituída junto à praia do Titã, obrando-se ali a já habitual feira romana e outras coisas de pasmar. As legiões farão a sua primeira aparição pelas 17 horas de sexta-feira, com o cortejo da Lusitânia para receber o cônsul, e só abandonarão o recinto no domingo depois do sol se pôr, após um mimoso espetáculo pirotécnico. Neste regresso de Matosinhos ao tempo dos romanos, a recriação histórica da lenda de Cayo Carpo acolherá a reconstituição da boda de Cayo e Cláudia, um mercado de escravos, pantomineiros, desfiles da guarda pretoriana, atuações musicais, um circo romano e as suas ferozes pelejas de gladiadores, banquetes e ateliês para os romanos mais pequenos, tudo acompanhado por músicos e bailarinas do império todo com a graça de César (programa completo em anexo). A entrada no recinto é gratuita, benefício que poderá ser devidamente agradecido aos deuses, Baco incluído
O evento não deixará, claro, de invocar o momento em que Cayo Carpo e o seu cavalo encontraram no alto mar a barca de pedra onde viajavam os restos mortais de São Tiago. Esta lenda, cuja representação gráfica decora a fachada dos paços do concelho de Matosinhos e a sua sala de sessões, terá estado na origem do topónimo Matosinhos, explicando, outrossim, o uso daquelas conchas pelos peregrinos dos Caminhos de Santiago e a conversão precoce desta parte da Ibéria ao cristianismo. “Se non è vero, è bene trovato”, conforme dizem os romanos de agora.
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