Romance “Montedor” será reeditado em Portugal ainda este ano. Para 2015, aguarda-se um romance inédito.
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José Rentes de Carvalho foi o escritor homenageado da 8ª edição do LEV- Literatura em Viagem.
Intitulada “Nasci escritor”, a sessão de homenagem, dia 10 de maio, contou com a presença, além do próprio escritor, de Bruno Vieira Amaral, Carlos Nogueira e Francisco José Viegas, que ajudaram “a descobrir as fragas de que é feita a vida e a obra de J. Rentes de Carvalho”, numa conversa descontraída e cheia de sentido de humor para satisfação do público que encheu a Biblioteca Municipal Florbela Espanca.
Presente esteve o Vereador da Cultura da Autarquia, Fernando Rocha.
O escritor e editor Francisco José Viegas salientou que José Rentes de Carvalho tem vindo a ser redescoberto nos últimos anos, reconhecendo, todavia, que, “durante anos, José Rentes de Carvalho foi ignorado em Portugal”.
De ascendência transmontana, José Rentes de Carvalho nasceu em 1930 em Vila Nova de Gaia, onde viveu até 1945. Frequentou no Porto o liceu Alexandre Herculano, e mais tarde os liceus de Viana do Castelo e Vila Real. Fez o serviço militar em Lisboa, onde simultaneamente frequentou os cursos de Românicas e Direito. Obrigado por razões políticas a abandonar Portugal, viveu no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris. Em 1956 passou a viver em Amesterdão, na Holanda, para onde foi como assessor do adido comercial da embaixada do Brasil. Licenciou-se na Universidade de Amesterdão com uma tese sobre O Povo na Obra de Raul Brandão. Nessa universidade foi docente de Literatura Portuguesa de 1964 a 1988. Desde então dedica-se principalmente à continuação da sua obra literária. A sua bibliografia inclui um vasto número de colaborações em revistas, publicações culturais e jornais portugueses, brasileiros, belgas e holandeses.
Francisco José Viegas adiantou que o primeiro romance de Rentes de Carvalho, lançado em 1968 pela Prelo com o título de “Montedor”, será reeditado em Portugal pela Quetzal já em outubro, aguardando-se, no próximo ano, o lanaçmento de um romance inédito do autor homenageado.
“O que acho que, neste momento ou neste ano, nesta época, as pessoas descobrirão em ‘Montedor’ é a aflição de querer sair do inferno que Portugal era nessa altura, uma escuridão total nas pessoas, não havia futuro, não havia esperança. Hoje, talvez essa miséria do antigamente se renove e que as pessoas, principalmente aqueles que têm 30 ou 40 anos e que não têm futuro ou se sentem desesperados, encontrarão nesse livro alguma coisa que lhes fale ao coração”, revelou José Rentes de Carvalho.
O escritor, agora com 84 anos, explicou que “Montedor” retrata a história do que lhe teria acontecido a si mesmo caso não tivesse saído de Portugal.
“Eu não tinha qualquer hipótese de construir um futuro em Portugal, eu era rebelde, eu era mau, eu era intolerante, era furioso, tinha uma raiva grande e sair de Portugal salvou-me, porque se tivesse ficado ia ser o protagonista de ‘Montedor’, o sujeito que está sempre à espera do que sonha e que nunca vai acontecer. Isso cria um desespero interior que é fatal para a pessoa”, admitiu o homenageado.
No passado mês de março, a Quetzal publicou “Portugal, a Flor e a Foice”, um olhar sobre os acontecimentos da revolução de 25 de Abril escrito em 1975.
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O LEV regressa esta tarde com o seguinte programa:
Domingo, 11 de maio
Biblioteca Municipal Florbela Espanca
O mapa da história | 15.00
Nunca se publicaram tantos livros centrados na história portuguesa ou universal. Estamos a fazer uma reconciliação com a história? Estamos a aprender com os erros do passado? Portugal está demasiado preocupado em viver a vida olhando exclusivamente para o futuro?
Convidados: Mateus Brandão e Rui Ramos | Moderação: Francisco José Viegas
O mapa da linguagem | 15.45
Um povo pouco instruído é mais facilmente dominado pelo discurso do poder? Estará a linguagem em processo de desertificação, e a literatura é um mero oásis? A política está a desenhar uma novilíngua? Que desafios se apresentam hoje a quem comunica e reflete sobre a linguagem?
Convidados: Laborinho Lúcio | Moderação: Maria João Costa
O mapa da viagem | 16.30
Como se prepara a viagem real e a imaginada? De que forma a reportagem de viagem se deixa contaminar pela ficção? Qual o papel da linguagem na construção da viagem descrita?
Convidados: Francisco Camacho e Paulo Moura | Moderação: Pedro Vieira
Sessão de Encerramento
17h15 «Duas escritas, a mesma língua»
Como se constrói uma cumplicidade entre autor e compositor? Será a música o último grande reduto da poesia?
Participantes: Mafalda Veiga, Maria do Rosário Pedreira, Miguel Araújo Jorge e Verônica Ferriani | Moderação: Tito Couto
