O Cine-Teatro Constantino Nery acolheu na tarde de ontem, dia 20 de outubro, a peça de teatro – “Fiandeira, Olhos nos Dedos, Lã, Lã, Lã”.
É a segunda estória da coleção Fios de Tempo do projeto Faunas, baseado em atividades tradicionais da cultura portuguesa. Desta vez, apresenta-se uma fiandeira que mais não é do que uma montanha que gira e tudo vê.
O Nery recebeu, assim, uma peça de teatro-dança para contadora e guitarra, um espetáculo feito de voz, palavra, imagem, movimento e som. Tal como a saia que a contadora veste, este é um espetáculo de múltiplas camadas, uma reunião de linguagens que se debruçam sobre uma memória comum: o ciclo da lã.
Várias histórias começam e acabam, são vistas e escutadas. Várias camadas, vários casacos que cada um pode escolher e vestir. Este é um espetáculo dirigido a todas as pessoas. Não foi selecionado apenas um público-alvo, sendo a peça dirigida a crianças, jovens, adultos e idosos. São múltiplos os públicos e as leituras, múltiplas as perspetivas e possibilidades de fruição do espetáculo, perspetivando-se interlocutores livres com a capacidade de criar em si uma “Fiandeira” nova e única, a cada visita.
Partindo-se de uma das atividades mais antigas e belas da nossa cultura: a fiação, integrada no ciclo da lã, a peça tem como objetivo a criação de uma ponte entre esse passado longínquo em que as vestes eram feitas em casa, vinham das mãos das mulheres de cada família, e este presente de “pronto a vestir” onde o traballho manual se resume aos botões das máquinas. Não se pretende aqui criticar nem cobrir o presente pelo véu da saudade, mas celebrar o valor essencial desse trabalho demorado, exaustivo e cheio de fé, que confere às coisas o estatuto de obra de arte através do ofício. E tudo isto acontece no campo, esse lugar onde tudo se transforma a tempo certo, onde não existe velocidade excessiva nem voltar atrás, apenas o escoar visível e o brotar sonhado. Por isso as imagens, por isso a guitarra, por isso a dança.
FICHA TÉCNICA Encenação: Andrea Gabilondo e Isabel Fernandes Pinto Texto e interpretação: Isabel Fernandes Pinto Composição e guitarra: Joaquim Pavão Desenho de movimento: Andrea Gabilondo Preparação vocal: Mónica Pais Figurinos: Tucha Martins Cenografia: Américo Castanheira e José Pinto Ilustração: Hugo Palmares Vídeo: Joaquim Pavão