Primeira edição do festival Cena Contemporânea, que decorrerá até 30 de Setembro, arranca com homenagem a Fernanda Lapa e com “Aldeotas”, um espetáculo que a crítica brasileira aclamou.
“Os dois atores que formam o elenco são cúmplices dedicados a seus personagens, Levi, o que viaja, e Elias, o que fica (…). De algum modo, o simples tamanho e peso de Elias parecem prendê-lo à rotina da aldeota, enquanto a leveza do pequeno Levi o faz voar para a poesia e a distância. A atuação de Gero Camilo é excepcional, comunicativa e cativante, rica e despojada, emocionada e marota”. As palavras pertencem à crítica brasileira Barbara Heliodora e referem-se à peça “Aldeotas”, de Gero Camilo, que amanhã abre a primeira edição do festival de teatro Cena Contemporânea de Matosinhos em Português.
“Aldeotas” conta a história de dois homens, amigos de infância, que se reencontram numa viagem pelos fragmentos da memória, na pequena cidade de Coti das Fuças. Estreada em 2004, a peça premiada de Gero Camilo regressou esta semana aos palcos brasileiros e chega também a Matosinhos, onde será interpretada pelo próprio Gero Camilo (ator conhecido, entre outros, pela sua participação no remake da telenovela “Gabriela” e nos filmes “Abril Despedaçado”, de Valter Salles, “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, “Carandiru”, de Hector Babenco, ou “Homem em Fúria”, de Tony Scott), desta vez acompanhado em palco por Victor Mendes.
Trata-se, afinal, de um espetáculo que “evidencia a capacidade de empregar a palavra como ferramenta essencial de um teatro voltado para o ator e a poesia”.
Antes da entrada em palco de “Aldeotas”, pelas 22h00, o Cine Teatro Constantino Nery assistirá ainda à inauguração da exposição que homenageia Fernanda Lapa, atriz e encenadora que este ano comemora os 50 anos de carreira. Depois, e até 30 de Setembro, a primeira edição do festival de teatro Cena Contemporânea de Matosinhos em Português tem muito mais para ver, de espetáculos de teatro a debates, passando pela música e pelas conferências.
O programa é inteiramente dedicado à dramaturgia escrita em português, destacando-se a estreia absoluta da peça “O meu país é o que o mar não quer”, de Ricardo Correia, a “Ode Marítima”, de Fernando Pessoa, na voz de João Grosso, e a peça “Um dia os réus serão vocês”, que tem por base o julgamento de Álvaro Cunhal em 1950. O ensaio público da peça “Breviário Gota D’Água”, que o Cine-Teatro Constantino Nery vai estrear em Outubro, será outro dos pontos altos do festival.
Com direção artística de Luísa Pinto, também diretora do Cine-Teatro Constantino Nery, o Cena Contemporânea de Matosinhos em Português contará com a participação do escritor angolano Ondjaki, que proferirá, no sábado, uma conferência e apresentará em Matosinhos um novo livro resultante de uma experiência dramatúrgica recente. Destaque ainda para a intervenção “Que deus lhe dê em dobro”, dos brasileiros Dragão 7, que ocorrerá de surpresa numa rua de Matosinhos no dia 23 de setembro.
Destinado a todos os públicos, o Cena Contemporânea de Matosinhos em Português assume o propósito de promover a cidade de Matosinhos a nível nacional e internacional, pretendendo oferecer uma programação ao nível dos grandes festivais que se fazem em Portugal. Propondo-se ainda dar sequência à exigência criada pela aposta que, desde há largos anos, a Câmara Municipal de Matosinhos tem vindo fazer na oferta cultural, na formação de públicos e na programação teatral, o certame encerrará em clima de festa, com o espetáculo de rua “Cidade Encantada”, um projeto que envolverá uma centena de participantes e ressuscitará algumas das lendas matosinhenses para comemorar os 500 anos do Foral do concelho.
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Foto de Karina Ades
