21.09.11
Artista deixou obra marcante no concelho de Matosinhos.

Num desenvolvido texto sobre Júlio Resende, José-Augusto França chamou-lhe “Mestre”, “treinador passivo” de uma geração de pintores que era então convidada a entendê-lo, para assim ultrapassar o que o mesmo autor chamava “complexo de eterno recomeço” da pintura portuguesa: “Não sei se outro pintor contemporâneo, de tal modo poderia abrir-se à lição europeia: com este humilde oficinal, sem equívocos ideológicos, e com este acerto, também, de um expressionismo que era imediatamente entendido e sentido”.
Júlio Resende faleceu hoje, em Gondomar, nas vésperas de completar 94 anos de idade.
O município de Matosinhos foi dos que mais acarinhou o pintor, tendo promovido diversas exposições centradas na sua obra com destaque para a que apresentou no Museu da Quinta de Santiago, ou ainda a que em 2001, ano em que Porto foi Cidade Europeia da Cultura, não incluindo na sua programação mostras do trabalho do Mestre, o município de Matosinhos promoveu, tendo sido uma das maiores exposição retrospectivas do artista.
A admiração pela obra de Júlio Resende em Matosinhos é bem visível no mural de azulejos, da sua autoria, que pode ser admirado na Sala de Sessões Públicas dos Paços do Concelho. Inaugurado em 1987, o edifício dos Paços do Concelho, da autoria de Alcino Soutinho, é o primeiro edifício institucional em Portugal construído de raiz, no período pós-25 de Abril, tendo sido projectado com os ideais democráticos ainda muito vincados.
Considerada uma referência no panorama da arquitectura nacional, alia a funcionalidade dos espaços com a modernidade das linhas, privilegiando a luz, o cidadão e o espaço público. Por deliberação tomadas em reunião de Câmara de Fevereiro de 1987, Júlio Resende ficou responsável pela criação de um mural de azulejos e a forma como concretizou o projecto inicial superou as expectativas nele depositadas. Júlio Resende deu uma nova vida à sala de sessões públicas, ficando o seu nome e a sua genialidade associados ao edifício da Câmara Municipal de Matosinhos.
Júlio Resende nasceu no Porto a 23 de Outubro de 1917.Foi professor do ensino secundário, mas cedo despertou nele o gosto pelas ilustrações e pela banda desenhada que ia fazendo para jornais e publicações infantis nos anos 30. Começou por desenhar na Academia Silva Porto seguindo depois para a Escola de Belas-Artes do Porto e, mais tarde, Paris. Nos seus périplos pela Europa, privou com grandes artistas como Francisco Goya e Pablo Picasso. Na escola portuense foi discípulo de Dórdio Gomes, a quem deverá a influência da obra com que terminou a licenciatura - «Os Fantoches». Em 1951, foi atribuído a Júlio Resende o prémio especial na Bienal de S. Paulo.
Na década de 50, fez exposições individuais em Portugal, Espanha, Bélgica, Noruega, Brasil e representou o país em exposições colectivas nas Bienais de S. Paulo, Veneza, Ohio, Londres e Paris. Além de «Ribeira Negra», outras obras se destacam na sua carreira. São elas: «Caminhantes» (1950), «Lavadeira (1954), «Mendigos» (1954) ou «Moça» (1982).
Júlio Resende deixa também a sua marca em várias obras públicas nacionais. Em 1952, executou um fresco da Escola Gomes Teixeira, no Porto. Das suas mãos saiu também o painel da sede do Banco de Portugal, a decoração do Palácio da Justiça de Lisboa, ambos na década de 60. Na estação do Metro de Sete Rios são da sua autoria.
Entre várias intervenções em várias localidades, é autor também dos vitrais para a Igreja Nª Sª da Boavista, Porto. Foi ilustrador de vários livros de figuras máximas da literatura portuguesa, como por exemplo, Fernando Namora «Retalhos da Vida de um Médico» Eugénio de Andrade em «Aquela Nuvem e outras», Sophia de Mello Breyner Andresen em «Noite de Natal», «O Rapaz de Bronze» e «O Primeiro Livro de Poesia», e com Ilse Losa em «O Rei Rique e Outras Histórias».

Conteúdo atualizado em21 de setembro de 2011às 15:05
