16.09.11
Coroa de flores foi depositada no busto do antigo Presidente de Câmara no jardim de Leça da Palmeira.
Fernando Pinto de Oliveira presidiu aos destinos da Câmara Municipal de Matosinhos entre 1958 e 1970. Conforme o título que Magalhães Pinto, o autor da biografia encomendada pela autarquia no âmbito do centenário fez questão de atribuir ao livro que escreveu, este foi “um homem além do seu tempo”. Ontem, 15 de Setembro, o dia em que se completaram exactamente cem anos do seu nascimento, pelas 18 horas, o Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto, presidiu a um momento de homenagem, tendo a seu lado o vereador da Cultura, Fernando Rocha, depositando uma coroa de flores no busto de Pinto de Oliveira, localizado no jardim com o mesmo nome na freguesia de Leça da Palmeira.
Nesta cerimónia, marcaram presença diversos membros da família do homenageado bem como o Presidente da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, Dr. Pedro Sousa.
Após esta cerimónia, decorreu a inauguração de uma exposição evocativa no Museu da Quinta de Santiago, onde se podem contemplar fotografias, documentos, projetos arquitectónicos e objectos pessoais de Pinto de Oliveira e que vai estar patente ao público até 31 de Janeiro de 2012.
Esta exposição foi preparada de forma a dar um destaque muito especial ao papel pioneiro e decisivo que este Presidente da Câmara possuiu na formação da vasta e valiosa coleção municipal de arte. Começando pela motorizada ou pelo automóvel, ambos em estado impecável, e que podem ser admirados no recinto exterior do museu, são muitas as curiosidades, as recriações de ambiente, os projectos arquitectónicos e urbanísticos, as obras de arte.
Na Sala do Piano foi recriado o ambiente do seu gabinete como Presidente da Câmara Municipal, incluindo mobiliário, documentação, objetos pessoais, e quadros. No jardim de inverno, no salão Luís XVI e na sala de jantar são abordadas diversas das suas obras mais significativas, através de fotografias, projetos arquitetónicos e urbanísticos, e um grande conjunto de documentos camarários.
No segundo piso do museu desenvolve-se outro núcleo desta exposição, no qual é evidenciado o papel decisivo que Fernando Pinto de Oliveira possuiu na génese e desenvolvimento da coleção de arte da Autarquia. Com efeito, muitas das obras que são hoje referências incontornáveis do acervo artístico municipal, foram então adquiridas por decisão e empenhamento desta personalidade.
São mais de três dezenas de telas, incluindo obras como “Visita Pascal” (1840) de Auguste Roquemeont e “Cláudio, compositor” (1918) da autoria de António Carneiro, que faziam parte da decoração do seu gabinete presidencial. Deste último autor está também exposto “Rochedos da Boa Nova” (1912). Esta é também uma oportunidade para se contemplar o conhecido “Retrato de António Nobre” (1918) de Edmund Kobn, ou “Ponte de pedra e casas de Leça” (1935), de Agostinho Salgado, uma das primeiras aquisições de Pinto de Oliveira durante a sua ação na Autarquia.
Nesta exposição podem-se contemplar também os estudos de duas obras emblemáticas encomendadas pelo autarca: o gouache de estudo de Guilherme Camarinhas para a tapeçaria “Lenda do Aparecimento do Senhor de Matosinhos” e o estudo para o fresco, concebido por Augusto Gomes, para o Posto de Turismo (“Praia de Matosinhos”, 1954).
Dever-se-á destacar, igualmente, duas outras interessantes aquisições: “Praia de Matosinhos”, 1954, de Joaquim Lopes, obra de tal forma emblemática que esteve exposta durante largos anos na sala das Sessões dos Paços do Concelho, e, inversamente, uma obra de estética claramente contemporânea e então muito incompreendida, de Ângelo de Sousa: “Cavalo Verde”, 1962. Esta última aquisição, polémica e muito contestada pelo restante executivo municipal, só se viria a concretizar por clara imposição e vontade de Pinto de Oliveira.
A exposição apresenta ainda obras de autores de referência como Hirosuke Watanuki, Marques de Oliveira, Veloso Salgado, Francisco José Resende ou Carlos Carneiro.
Um exposição de visita obrigatória para conhecer melhor a História recente de Matosinhos! Fernando Pinto de Oliveira (Leça da Palmeira, 1911-1975), é uma personalidade marcante na história da região, tendo presidido aos destinos da Câmara Municipal de Matosinhos entre 1958 e 1970. Pinto de Oliveira frequentou o Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, onde em 1938 se licenciou como Engenheiro Agrónomo, tendo apresentado como dissertação final do curso um pormenorizado trabalho efectuado nos Laboratórios do Instituto dos Vinhos do Porto.
A partir de 1943 desempenhou diversas funções públicas relacionadas com o seu curso, tendo entrado em 1950 para a Câmara Municipal de Matosinhos como vereador do então Presidente Dr. Fernando Aroso. Ocupa então a presidência da Comissão Municipal de Turismo, onde exerce uma ação relevante, criando o Posto de Turismo, no Mercado de Matosinhos, onde além de outras actividades se passaram a realizar exposições de arte permanentes e se começou a constituir a coleção municipal de arte.
Ocupando à data do falecimento de Fernando Aroso o cargo de vice-presidente, foi naturalmente nomeado, por escolha governamental, para o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos. Inicia então uma fase ainda mais intensa e relevante da sua acção municipal, a ele se ficando a dever obras ue são hoje ex-libris indiscutíveis de Matosinhos e da Área Metropolitana do Porto. Caso da Casa de Chá da Boa Nova, da Piscina de “Marés” de Leça da Palmeira, a aquisição da Quinta de Santiago, a aquisição e adaptação a Parque Público da Quinta da Conceição, o Parque de Campismo de Angeiras, o Centro Hípico de Leça da Palmeira...
A estratégia de desenvolvimento urbanístico sonhada pelo Eng.º Pinto de Oliveira para a então vila de Matosinhos-Leça, fortemente alicerçada nas potencialidades turísticas deste território, passava também por uma forte qualificação dos terrenos a Norte do Farol da Boa Nova, transformando-os numa zona de lazer privilegiada, onde se desenvolveriam várias estruturas turísticas incluindo um vasto campo de “golf” municipal. Por isso, logo que soube que o Governo do Estado Novo aí pretendia instalar uma empresa petrolífera – a, na altura, designada Sacor - desenvolveu várias tentativas na procura de evitar a destruição do seu plano para a Boa Nova. Numa época em que o Poder Local não tinha ainda a força e poder de influência que viria a ganhar com o regime democrático saído do “25 de Abril” de 1974, não conseguiu demover a inabalável decisão do governo que – face à sua oposição à instalação da refinaria petrolífera naquele local – acabou por não lhe renovar o mandato, deixando assim a Câmara em 1970.

Conteúdo atualizado em16 de setembro de 2011às 11:26
