
O Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto, acompanhado pelo Vereador da Cultura Fernando Rocha, inaugurou no passado dia 14 de Março na Galeria Municipal a exposição de Escultura e Desenho “As Árvores como os rios correm para o Mar” do conceituado escultor Alberto Carneiro.
Escultor com um vasto currículo, e por muitos considerado como o melhor escultor da Arte Portuguesa Moderna e Contemporânea, Alberto Carneiro apresenta até ao 11 de Abril na Galeria Municipal de Matosinhos uma exposição com cerca de quarenta esculturas em madeira entre os anos 90 do século XX e 2007 e ainda uma dezena de desenhos.
Paulo Pires do Vale escreve no catálogo desta exposição “ (...) É essa energia ligada à terra-mãe fecundada pela água– da-vida que se manifesta na obra de Alberto Carneiro: as árvores como os rios fluem para o mesmo mar. Os símbolos polissémicos que o escultor retoma, como aqueles presentes no título desta exposição, com as suas diferenças e matizes insubstituíveis, remetem todos para a origem, para o tempo dos começos. Alberto Carneiro procurou, desenvolveu e recriou uma linguagem ancestral e perene, linguagem pré-judaico-cristã que se sabe pós-cristã. (...) A árvore é, para ele, verdadeira “mandala vertical” - que o artista identificará em 1978 com o seu próprio corpo: Ele mesmo mandala em si.
(...) A obra de Carneiro desenvolve-se, como dizíamos, em redor de uma erótica da terra.
(...) Alberto Carneiro propõe nas suas obras uma arqueologia da carne: não é a “espiritualização” do corpo que está aqui em causa, mas a compreensão da reversibilidade essencial da carne que se compreende como relação. É ao ser-incarnado em abertura ao mundo que nos dirige. O corpo é coisa e mediação das coisas. Linguagem que transporta sempre um fio de silêncio, e essa reversibilidade é-nos essencial: “O invisível, o espírito, não é outra positividade, mas o avesso, o outro lado do visível”. É o tocante que se sente enquanto tocado quando toca. Sentir é sentir-se, e as obras deste artista demonstram o carácter reflexivo do encontro com o mundo e os outros. Há, assim, a recusa do puro objecto, para se perceber a relação íntima dele com o sujeito: no fundo, aqui, sujeito (Eu) e objecto (Natureza) são um. É a natureza em nós, e nós na natureza. Relação: entre o escultor e a matéria; entre os vários elementos que constituem a obra; e entre a obra e o experimentador, que através dela refigura o seu mundo. O artista não representa nem árvores, nem rios, nem corpos – facilita a possibilidade de o espectador encontrá-los em si mesmo.
(...) O trabalho continuado e persistente de Alberto Carneiro é eco de um estremecimento longínquo, um tremor que da terra nos toma o corpo. Ele não esconde a perplexidade, deixa-nos no aberto, na clareira de um bosque, dentro do que nos é infinitamente próximo e que estranhamos. Não nos oferece o conforto de uma lógica, de uma moldura, de uma distância de segurança: em espiral faz-nos percorrer o espaço da nossa própria memória e corpo, em direcção a essa profunda identidade com a terra, a montanha, o rio e o bosque. A sua árvore soube criar raízes profundas no betão.
Horário da Galeria
2ª a 6ª feira das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30
Sábados, Domingos e Feriados das 10h00 às 13h00 e das 15h00 às 18h00

