Campanha decorre até 3 de junho no Castro do Monte Castêlo.
A campanha arqueológica que está a decorrer no Castro do Monte Castêlo, em Guifões, já permitiu descobrir a estrutura de uma casa do século I a.C, indícios da existência de alguns muros e objetos provenientes do sul de Espanha e de Itália, bem como do norte de África, reforçando a convicção de que ali existiu, há cerca de dois mil anos, uma importante estrutura portuária de comércio internacional. O castro, recorde-se, é apontado como o local onde foi instalada a primeira grande povoação do território que hoje corresponde a Matosinhos, sendo considerado um ponto fulcral para a investigação da história do concelho.
Os trabalhos em curso, que se prolongarão até 3 de junho, decorrem num terreno da encosta do Monte Castêlo já exterior aos limites do castro. Os achados detetados permitem, por isso, confirmar a convicção de que o povoamento não se restringia ao topo do monte, estendendo-se por toda a encosta até ao rio Leça, onde existiria um entreposto de comércio marítimo que terá assumido uma grande importância durante o período de romanização da Península Ibérica.
O Castro do Monte Castêlo, em Guifões, terá sido habitado desde antes do século V a.C. até ao século V da era cristã, integrando progressivamente um novo espaço económico e político de âmbito europeu. As escavações em curso pretendem aprofundar o conhecimento científico sobre o modo como este processo decorreu.
Localizado junto do estuário do Rio Leça, este castro romanizado apresenta uma longa diacronia de ocupação. Os materiais mais antigos parecem remontar ao cerca de 900 a.C., estando ainda documentada uma reocupação na Alta Idade Média, com a construção dum pequeno castelo. Por toda a área do Monte, desde o topo até à base, junto ao Rio Leça, existem indícios de estruturas arqueológicas enterradas definidas por alinhamentos de alicerces, plataformas artificiais e materiais à superfície. Na zona ribeirinha, perto da ponte e do moinho, poderá ter existido um pequeno fundeadouro ou porto de época romana, uma vez que este local se situa na extremidade do antigo estuário do Rio Leça (atualmente ocupado com as docas do Porto de Leixões), onde se registam diversas evidências da chegada de mercadorias vindas de pontos longínquos do Império Romano e que aqui eram descarregadas.
Apesar de, desde os primórdios da arqueologia portuguesa, este sítio ter despertado a atenção de vários investigadores (Leite de Vasconcelos, Martins Sarmento, Rocha Peixoto, Ruy Serpa Pinto, Mendes Corrêa, e outros), foi principalmente durante o período entre 1950 e 1970 que a ação de Joaquim Neves dos Santos permitiu um avanço significativo no conhecimento do sítio. Este investigador identificou em Guifões diversas estruturas. Pela situação geográfica e pela importância dos materiais ali recolhidos, o sítio do Monte Castêlo é um dos sítios arqueológicos mais importantes da região litoral situada entre o Rio Douro e o Rio Ave.
A campanha arqueológica em curso, realizada no âmbito de um protocolo estabelecido entre a Câmara Municipal de Matosinhos e o Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, integra um projeto de investigação plurianual em Arqueologia e destinam-se a explorar, valorizar e divulgar aquele sítio arqueológico, onde se crê que residam as raízes remotas de Matosinhos. Os trabalhos contam também com o apoio da União de Freguesias de Guifões, Custóias e Leça do Balio e da Administração dos Porto do Douro, Leixões e Viana do Castelo, proprietária da parcela de terreno onde decorre a intervenção arqueológica.
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