
Prémio Nobel da Paz em 2006, Muhammad Yunus, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, marcaram presença neste segundo dia do “Fórum da Sustentabilidade e Sociedade”
Chegou hoje ao fim o debate público dos temas da Agenda 2030 das Nações Unidas pelas vozes de especialistas.
O segundo e último dia da conferência internacional “Fórum da Sustentabilidade e Sociedade”, organizada pelo Global Media Group, em parceria com a Galp, CGD, Fundação INATEL, Grupo Bel e Câmara Municipal de Matosinhos, teve como ponto alto as intervenções de Muhammad Yunus, "inventor" do microcrédito e Prémio Nobel da Paz, em 2006, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Tendo como ponto de partida algumas considerações sobre a pandemia, a vacinação, o lucro e a visão economicista das sociedades, o Nobel da Paz alertou para os inúmeros perigos da vivência numa sociedade deste tipo.
Muhammad falou um pouco da sua experiência de criação de um banco dos pobres, há quase 50 anos, em 1976, quando decidiu criar o banco Grameen. Esta instituição especializada em microcrédito tornou-se conhecida como o banco dos pobres porque emprestava pequenas quantias nas aldeias sem que, para isso, exigisse garantias ou advogados. Hoje, tem mais de duas mil agências a funcionar com este método e uma taxa de reembolsos de quase 99%, de fazer inveja aos principais bancos do Mundo.
Muhammad Yunus, destacou a necessidade de se redesenhar um novo modelo económico para erradicar a pobreza. Segundo ele, a pobreza é criada pelo sistema que construímos. “Esta máquina não é sustentável, vai levar-nos ao fim do mundo por estar baseada em pressupostos errados”, acrescentou. O atual sistema "suga toda a riqueza do fundo da cadeia para o topo, onde fica apenas uma pequena porção da população". “Esta é uma boa altura para construir um novo engenho para um novo começo” sublinhou.
O fundador do banco Grameen defendeu que a natureza do ser humano "é ser empreendedor", “ser um criador de trabalho”, por oposição a "este modelo em que os seres humanos se transformam em robôs de fazer dinheiro". Daí que defenda um conceito de negócio social em que o banco que empresta não está interessado nos lucros da empresa: "Apenas têm de devolver aquilo que investimos, que emprestamos, e temos milhares de jovens a criar o seu próprio emprego em vez de estarem à espera, sentados, de ter um emprego".
As gerações mais jovens "têm que assumir o controlo" e caminhar para a paz, usando os "superpoderes" que as novas tecnologias lhes concedem. Yunus afirmou acreditar que é possível a mudança, “a criação de uma nova civilização”. “Basta querer”, concluiu.
Outro dos momentos altos do dia foi a intervenção do Presidente da República Português. Inspirado pelo discurso do Nobel da Paz, Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu-lhe algumas palavras de reconhecimento e homenagem, destacando a importância da sua presença neste fórum, pela diferença da sua visão do mundo. “Yunus representa o sopro da vida num debate que é normalmente feito numa perspetiva tecnocrática”. Marcelo elogiou os” seus pensamentos tão jovens, tão perspicazes, tão visionários”, a sua capacidade de olhar o mundo com base nas pessoas e a relevância do seu discurso e das suas verdades tão distintivas das do mundo em que vivemos.
O Presidente Português teceu ainda algumas considerações sobre a pertinência de olharmos para “o ambiente, a ecologia, os recursos finitos e os limites do planeta em que vivemos”. “Ou vivemos a pensar apenas no nosso umbigo”, referiu, ou “damos uma hipótese aos nossos filhos, netos e bisnetos de viver”.
Marcelo Rebelo de Sousa ‘passeou’ também pelos vários tipos de sustentabilidade e as várias áreas onde esta se pode aplicar, colocando em evidência as principais diferenças entre a sustentabilidade preconizada por Yunus e a sustentabilidade que apelidou de “tecnocrática, economicista ou quantitativa.”
O Presidente da República salientou o valor de uma sustentabilidade equilibrada, baseada nas pessoas. “A sustentabilidade não pode ignorar que uma das suas preocupações é diminuir as desigualdades. Temos de olhar para a macroeconomia, mas temos de perceber que detrás da macroeconomia estão as pessoas e os seus problemas microeconómicos”. "Ou introduzimos a perspetiva das pessoas ou corremos o risco de perder a visão do essencial".
O fórum teve, depois, seguimento com o painel de debate sobre o tema “objetivos e políticas para uma Europa Sustentável” com a participação de vários oradores e o encerramento por Mário Campolargo, Secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa.
Foram dois dias de debate e reflexão que chegaram ao fim. Os temas da sustentabilidade social, da igualdade de oportunidades e da resiliência da Humanidade estiveram presentes neste grande evento que trouxe a Portugal grandes nomes.
De destacar o arranque hoje do Festival MOODS, associado a este fórum, no Jardim Basílio Teles, mesmo em frente à Câmara Municipal, com múltiplas atividades para promover a reflexão sobre a sustentabilidade de uma forma descontraída e divertida.
Veja aqui o programa completo:
https://www.cm-matosinhos.pt/servicos-municipais/comunicacao-e-imagem/eventos/evento/festival-moods
