No âmbito da temporada 2016 da Música em Matosinhos, o pianista Bernardo Pinhal esteve na noite de 4 de março no Cineteatro Constantino Nery.
No concerto foi possível ouvir o jovem e promissor pianista, Bernardo Pinhal, a interpretar duas obras musicais para piano solo, escritas por dois compositores de eleição, que nos permitiram viajar auditivamente por diferentes espaços estéticos e lugares de evocação musical. São eles Maurice Ravel (1875-1937), com a suite Le Tombeau de Couperin, e Sergey Prokofiev (1891-1953), com a Sonata nº8, em Si bemol maior, op. 84.
Maurice Ravel nasceu na vila Basca de Ciboure, França, em 7 de março de 1875, e faleceu a 28 de dezembro de 1937, na cidade de Paris. Foi, talvez, um dos mais originais e requintados compositores europeus do início do século XX. A sua escrita musical revela-nos um universo fascinante de novas possibilidades musicais que se geraram, fundamentalmente, a partir de um balanço, sensível e ténue, que obtém entre o labor e a originalidade, por um lado, e a influência e a imitação, por outro; entre um trabalho composicional complexo que empreende de forma metódica e criteriosa (como um “relojoeiro suíço”, nas palavras de Igor Stravinsky) e a sua fascinação pela tradição musical europeia, pelos modelos clássicos da composição, pela música do passado e pela música exótica e nacionalista de outras culturas.
A composição para piano Le Tombeau de Couperin, dedicada à memória de amigos do compositor mortos durante a I Grande Guerra, foi composta em 1914/17 e apresentada, pela primeira vez, em 1919, na Salle Gaveau, em Paris, pela insigne pianista francesa Marguerite Long. Le Tombeau de Couperin é constituído por seis peças ou danças - Prélude, Fugue, Forlane, Rigaudon, Menuet e Toccata -, designações semelhantes às utilizadas nas suites francesas para cravo do século XVIII. As diferentes peças desta suite para piano solo novecentista desenvolvem-se a partir de formas musicais fortemente contrastantes (andamento e carácter) e recorrem a uma escrita musical rica e virtuosa, onde a multiplicidade de elementos temáticos, a ornamentação exuberante, a diversidade estrutural melódica e harmónica (modal, diatónico e cromático) e o lirismo do discurso são uma constante.
Sergey Prokofiev, compositor e pianista, nasceu na cidade Sontzovka, Ucrânia, a 23 de abril de 1891, no seio de uma família cultural e economicamente privilegiada, e morreu, em Moscovo, Rússia, a 5 de março de 1953 (no mesmo dia em que morreu Josef Stalin).
A obra musical de Sergey Prokofiev é constituída por uma diversidade de composições, de diferentes géneros e para múltiplas formações, que nos testemunham, de uma forma clara e bastante refinada, as opções estéticas e musicais do compositor.
A Sonata nº8, em Si bemol maior, op. 84, conhecida como a terceira das três sonatas de guerra (Three War Sonatas), foi composta em 1939/44 e apresentada, pela primeira vez, em 1944, no Conservatório de Moscovo, pelo pianista Emil Gilels. A obra foi dedicada à sua segunda mulher, Mira Abramovna Mendelson, e obteve o prémio Stalin. A Sonata nº8, em Si bemol maior, op. 84, é considerada, pelos mais conceituados intérpretes do nosso tempo, uma das obras primas da literatura para piano do século XX, uma espécie de sinfonia para piano de grandes dimensões (Sviatoslav Richter ou Barbara Nissman). É constituída por três andamentos - Andante dolce, Andante sognando e Vivace -, que nos transportam para uma variedade de ambientes (lírico, melancólico e espirituoso) e de tensões musicais, resultantes de uma escrita bastante elaborada e de uma estrutura formal fortemente expandida.
Sobre Bernardo Pinhal é possível dizer que começou a tocar piano aos cinco anos. Estudou com os professores Ângela Soares e Vítor Pinho e posteriormente na ESMAE com Miguel Borges Coelho. Tocou em recital um pouco por todo o país e também em Espanha. Destacam-se, a título de exemplo, os últimos concertos no Porto, no Teatro do Campo Alegre, o concerto na sala Guilhermina Suggia no Ciclo de Piano EDP, na Casa da Música, ou o último concerto no Teatro Luisa Todi, em Setúbal no ano passado, inserido nas I Jornadas de Música de Câmara. Foi várias vezes vencedor de concursos nacionais como o Concurso Marília Rocha (2009), o Concurso Internacional do Fundão (2010) ou o Concurso de Santa Cecília, no Porto (2013). Obteve também o 2o prémio no Concurso Internacional de Piano de San Sebastian (2011) e o prémio especial EMCY (European Union of Music Competitions for Youth) e o 2o prémio no Concurso Jovens Músicos, em 2014. Em 2011 foi-lhe atribuído uma bolsa de estudos da Fundación Carolina para estudar na Escola Superior de Música Reina Sofía, em Madrid, na qual pertenceu à classe de Dmitri Bashkirov (e Denis Lossev, seu assistente) durante dois anos.
Neste momento é aluno de Claudio Martinez Mehner em Basileia e é bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. É membro do ensemble de câmara Hermes, sediado em Sta. Maria da Feira. Cantar também é parte decisiva da sua formação artística: teve aulas de canto com Deolinda Resende e passou (e passa ainda) vários anos no Coral de Letras da Universidade do Porto.
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