15.09.11
Livro da autoria de Magalhães Pinto apresentado pelo Dr. Lobo Xavier.
“Ser autarca, em particular presidente de Câmara, mais ainda numa autarquia como Matosinhos, é um honroso privilégio a que, como é natural, poucos são dados aceder. Ter a oportunidade de materializar uma visão e uma estratégia, ver concretizados projectos que se ambicionam, resolver problemas da sua comunidade, influenciar os destinos da sua cidade é, a um tempo, fascinante, motivador e muito responsabilizante. Um autarca é alguém convocado a perceber de quase tudo, solicitado a responder ao presente e obrigado a antever o futuro para o qual, se for inteligente, deve direccionar boa parte da sua atenção. Certo que desde a época de Fernando Pinto de Oliveira e até hoje muito mudou”. É desta forma que o Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto, iniciou o seu prefácio da obra da autoria do Dr. Magalhães Pinto, “Fernando Pinto de Oliveira… um homem além do seu tempo”, que a Câmara Municipal de Matosinhos decidiu lançar para assinalar o centésimo aniversário do nascimento do Engº Fernando Pinto de Oliveira. Um livro da autoria do Dr. Magalhães Pinto, recentemente falecido.
“Era domingo. O motorista Gervásio aprontou a viatura da Câmara na qual conduziria o senhor presidente ao acto oficial, no Porto. Não que ele tivesse por uso ocupar os seus motoristas fora dos dias úteis de trabalho. Só quando aconteciam actos como aquele no qual, segundo ouvira dizer, estaria presente o Senhor Presidente da República. A inauguração da Ponte da Arrábida. Sabia as regras naqueles casos. Carro impecavelmente brilhante. Duas bandeirinhas com o brasão do município à frente, uma de cada lado do capô. Motorista impecavelmente fardado. Luvas brancas calçadas. Boné na mão quando o presidente da Câmara entrasse no automóvel ou dele saísse”. São estas as primeiras frases de um livro em tom biográfico que nos dá um retrato de um passado recente de Matosinhos e que convida a agradáveis momentos de leitura.
Esta obra de grande importância para a História de Matosinhos foi apresentada ontem, dia 14 de Setembro, pelas 22 horas, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, numa emotiva sessão presidida pelo Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto, e apresentada pelo Dr. António Lobo Xavier, na qual participaram também o Vereador da Cultura, Fernando Rocha, o Dr. José Cameira, em representação da família de Fernando Pinto de Oliveira, o Arqº Carlos Coelho, em representação da família do Dr. Magalhães Pinto, e ainda o Dr. Miguel Gonçalves da Editora QuidNovi, parceira da autarquia nesta publicação. Também estiveram presentes o Presidente da Assembleia Municipal de Matosinhos, Guilherme Vilaverde, o Vice-presidente da autarquia, Dr. Nuno Oliveira, e a Vereadora Dra. Joana Felício.
Resultante de uma encomenda da Autarquia, “Fernando Pinto de Oliveira… um homem além do seu tempo” é um aprofundado estudo biográfico (de um autor responsável, entre outros, pela biografia de Belmiro de Azevedo) que permite, simultaneamente, um aprofundamento dos conhecimentos históricos sobre Matosinhos e a região envolvente das décadas de 50, 60 e 70 do século passado.
Com prefácio do actual Presidente da Câmara Municipal, Dr. Guilherme Pinto, esta obra conta igualmente com um posfácio redigido pelo Arquitecto Álvaro Siza Vieira que, muito jovem, no final da década de 50/início da de 60, viu os seus trabalhos aprovados e incentivados por Pinto de Oliveira.
É exactamente hoje, quinta-feira, dia 15 de Setembro, que se completam os cem anos sobre a data de nascimento do Engº Fernando Pinto de Oliveira, responsável político pelo aparecimento de alguns dos monumentos contemporâneos mais emblemáticos da Área Metropolitana do Porto, incluindo o Salão de Chá da Boa Nova e as piscinas de Leça da Palmeira (da autoria de Siza Vieira) e o Parque Público da Quinta da Conceição (de Fernando Távora).
Fernando Pinto de Oliveira (Leça da Palmeira, 1911-1975), é com efeito uma personalidade marcante na história da região, tendo presidido aos destinos da Câmara Municipal de Matosinhos entre 1958 e 1970. Visionário, consciente da importância de que o turismo se viria a revestir nas décadas seguintes, a ele se devem também estruturas como o Parque de Campismo de Angeiras (durante anos uma referência absoluta neste tipo de equipamento turístico), o Centro Hípico do Porto-Matosinhos, ou a aquisição da Quinta de Santiago que hoje alberga um dos mais concorridos museu da região… A sua saída da presidência da Câmara, em 1970, terá resultado da oposição que manifestou junto do Estado Novo em relação à construção da refinaria petrolífera nos terrenos a norte de Leça, facto que não agradou aos responsáveis da ditadura.
A Autarquia de Matosinhos assinala, desta forma, a efeméride através de um conjunto de iniciativas que visam, não só sublinhar o papel crucial desta personalidade no desenvolvimento de Matosinhos, mas também valorizar a Memória da comunidade e o Património que lhe fica associado. As comemorações prosseguem, assim, hoje, dia 15 de Setembro, às 18 horas, com a colocação de uma coroa de flores por parte da Autarquia no busto do homenageado no jardim com o seu nome, localizado no centro de Leça da Palmeira. Após esta cerimónia realiza-se, pelas 18.30, a inauguração de uma exposição evocativa no Museu da Quinta de Santiago (igualmente em Leça da Palmeira), onde se poderão contemplar fotografias, documentos, projetos arquitectónicos e objectos pessoais de Pinto de Oliveira (incluindo o seu automóvel e motorizada). Este museu municipal dará, também, nesta exposição, um destaque muito especial ao papel pioneiro e decisivo que este Presidente da Câmara possuiu na formação da vasta e valiosa coleção municipal de arte.
A exposição vai estar patente ao público até 31 de Janeiro de 201 e divide-se em dois núcleos.
No primeiro piso do museu da Quinta de Santiago é recriado, na Sala do Piano, o ambiente do seu gabinete como Presidente da Câmara Municipal, incluindo mobiliário, documentação, objetos pessoais, e quadros. No jardim de inverno, no salão Luís XVI e na sala de jantar são abordadas diversas das suas obras mais significativas, através de fotografias, projetos arquitetónicos e urbanísticos, e um grande conjunto de documentos camarários. Completando este núcleo estão igualmente expostos, no jardim da Casa, o automóvel e a motorizada de Fernando Pinto de Oliveira.
No segundo piso do museu desenvolve-se o segundo núcleo desta exposição, no qual é evidenciado o papel decisivo que Fernando Pinto de Oliveira possuiu na génese e desenvolvimento da coleção de arte da Autarquia. Com efeito, muitas das obras que são hoje referências incontornáveis do acervo artístico municipal, foram então adquiridas por decisão e empenhamento desta personalidade.
São mais de três dezenas de telas, incluindo obras como “Visita Pascal” (1840) de Auguste Roquemeont e “Cláudio, compositor” (1918) da autoria de António Carneiro, que faziam parte da decoração do seu gabinete presidencial. Deste último autor está também exposto “Rochedos da Boa Nova” (1912). Esta é também uma oportunidade para se contemplar o conhecido “Retrato de António Nobre” (1918) de Edmund Kobn, ou “Ponte de pedra e casas de Leça” (1935), de Agostinho Salgado, uma das primeiras aquisições de Pinto de Oliveira durante a sua ação na Autarquia.
Nesta exposição podem-se contemplar também os estudos de duas obras emblemáticas encomendadas pelo autarca: o gouache de estudo de Guilherme Camarinhas para a tapeçaria “Lenda do Aparecimento do Senhor de Matosinhos” e o estudo para o fresco, concebido por Augusto Gomes, para o Posto de Turismo (“Praia de Matosinhos”, 1954).
Dever-se-á destacar, igualmente, duas outras interessantes aquisições: “Praia de Matosinhos”, 1954, de Joaquim Lopes, obra de tal forma emblemática que esteve exposta durante largos anos na sala das Sessões dos Paços do Concelho, e, inversamente, uma obra de estética claramente contemporânea e então muito incompreendida, de Ângelo de Sousa: “Cavalo Verde”, 1962. Esta última aquisição, polémica e muito contestada pelo restante executivo municipal, só se viria a concretizar por clara imposição e vontade de Pinto de Oliveira.
A exposição apresenta ainda obras de autores de referência como Hirosuke Watanuki, Marques de Oliveira, Veloso Salgado, Francisco José Resende ou Carlos Carneiro.

Conteúdo atualizado em15 de setembro de 2011às 11:06
