
Comemorações entre abril de 2022 e junho de 2023
No ano em que se assinala o centenário da morte de Aurélia de Souza, o Museu Nacional Soares dos Reis, a Universidade do Porto e os municípios do Porto e Matosinhos prepararam uma programação especial para celebrar uma das mulheres mais marcantes da vida artística do país e especialmente do Norte, na passagem do século XIX para o século XX.
Natural da cidade de Valparaíso (Chile), onde nasceu a 13 de junho de 1866, Maria Aurélia Martins de Souza fixou-se no Porto, aos três anos de idade, quando os pais, emigrantes portugueses na América Latina, regressaram ao país.
Autora de uma das obras de referência da arte portuguesa – "Autorretrato" (1900), da coleção do Museu Nacional Soares dos Reis, iniciou a sua aprendizagem artística com lições particulares de desenho e pintura de Caetano Moreira da Costa Lima. Com apenas 27 anos, entrou na Academia Portuense de Belas-Artes (1893/1898).
Em 1899, a artista partiu para Paris para, durante três anos, completar os cursos ministrados por Jean-Paul Laurens e Benjamin Constant, na Academia Julien. Antes de regressar a Portugal, viajou por vários países, como Bélgica, Alemanha, Itália e Espanha.
No regresso ao Porto, a pintora desenvolveu uma carreira reservada e um pouco arredada dos meios artísticos da cidade, apesar da participação regular em exposições coletivas.
Aurélia de Souza morreu no Porto, a 26 de maio de 1922, a poucos dias de completar 56 anos.
As comemorações do centenário do falecimento da artista irão decorrer entre 9 de abril deste ano e 23 de junho de 2023.
A apresentação da programação decorreu hoje no Museu Nacional Soares dos Reis e contou com a participação da Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Luísa Salgueiro, do Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, da Subdiretora da Direção-Geral do Património Cultural, Rita Jerónimo, do reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, do diretor do Museu Nacional Soares dos Reis, António Ponte, e da Presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Braga da Cruz.
Presente esteve também o Vereador da Cultura da autarquia de Matosinhos, Fernando Rocha.
Conversas, exposições, atividades educativas, um programa performativo, um congresso internacional e a edição de um catálogo, são algumas das iniciativas previstas, em locais como o Museu Quinta de Santiago, a Casa Marta Ortigão Sampaio, Museu de História Natural e da Ciência, Museu da Cidade – Extensão do Romantismo, Jardins do Palácio de Cristal ou Museu Nacional Soares dos Reis, e que, segundo António Ponte, representam um “esforço conjunto” e o trabalho em rede de sete instituições em torno da evocação do centenário da morte de Aurélia de Souza.
Já Rita Jerónimo sublinhou a importância de divulgar os acervos e os equipamentos culturais, fomentar o conhecimento das coleções, principalmente junto de novos públicos, e perpetuar a vida e a obra de Aurélia de Souza.
Isabel Braga da Cruz referiu, por sua vez, a importância, de a instituição a que preside, se associar à homenagem a “um dos maiores vultos da pintura portuguesa”.
Para António Sousa Pereira, a “importância artística da pintora justifica a ampla parceria interinstitucional”, realçando que o pirograva evocativo “presta não só um tributo a Aurélia de Souza, como também dá a conhecer a sua obra a um público não especializado e obras não tão conhecidas”, com os seus primeiros trabalhos enquanto estudante da Academia Portuense de Belas-Artes.
Rui Moreira considerou Aurélia de Souza uma “mulher cosmopolita que desafiou as convenções de uma época”.
Luísa Salgueiro destacou o papel fundamental que Aurélia de Souza teve “neste mundo difícil de afirmação do papel das mulheres na sociedade”. “Foi uma das primeiras mulheres a integrar turmas mistas na Academia de Belas-Artes, tendo sido respeitada pelos seus pares”, frisou.
A autarca falou também da ligação de Aurélia de Souza a Matosinhos, usando as paisagens e as gentes de Leça da Palmeira como inspiração para as suas obras. “É uma das artistas mais representadas na coleção municipal, com mais de 20 obras”, adiantou.
No concelho de Matosinhos, o Museu da Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira, acolhe, de 26 de maio a 4 de setembro, a exposição “Aurélia de Souza. Do que vejo…”, com curadoria de Cláudia Almeida e Filipa Lowndes Vicente.
Paralelamente à exposição, haverá uma residência artística – “À procura de Aurélia de Souza”, um programa educativo, um workshop ikebana, visitas performativas e visitas dramatizadas.
Já no próximo ano, em abril, Matosinhos será palco do segundo dia do Congresso Internacional “Mulheres Artistas em 1900”.
Também em 2023, destaque para o lançamento, em março, do catálogo integral da obra da artista, disponível em formato ebook e em edição impressa.
Com coordenação científica de Raquel Henriques da Silva e Elena Komissarova (Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova), Ana Paula Machado (Direção Geral do Património Cultural – Museu Nacional Soares dos Reis), e Maria Aguiar (Universidade Católica Portuguesa – Porto), e a parceria dos municípios do Porto e Matosinhos, o catálogo “Raisonné” apresentará uma lista descritiva e anotada de imagens e documentos de contextualização da obra da pintora, quer em coleções públicas quer em particulares.
