
Escavações arqueológicas decorrem até 27 de maio
A sexta campanha de escavações arqueológicas no sítio do Castro do Monte Castêlo, também conhecido como “Castro de Guifões” já começou.
Os trabalhos, que têm vindo a ser realizados anualmente desde 2016, com exceção do ano de 2020 devido à situação pandémica, tiveram início na passada terça-feira, 26 de abril, vão manter-se por um mês, e resultam de um protocolo de colaboração estabelecido entre a Câmara Municipal de Matosinhos, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto e a APDL – Administração do Porto de Leixões, proprietária da parcela de terreno onde será realizada a intervenção arqueológica. Esta intervenção conta ainda com o apoio da União de Freguesias de Guifões, Custóias e Leça do Balio, bem como com as colaborações do Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória” (CITCEM) e do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO – INBIO).
A ação de campo integra-se num Projeto de Investigação Plurianual em Arqueologia para a investigação, valorização e divulgação do sítio arqueológico do Castro do Monte Castêlo e será realizada como parte integrante do módulo de formação prática em técnicas de escavação arqueológica da licenciatura de Arqueologia da FLUP (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), contando por isso com a participação de um grupo de estudantes finalistas desta instituição.
O projeto associa a componente de investigação científica ao processo dinâmico de ensino e aprendizagem prática das técnicas de escavação arqueológica, fazendo do Castro do Monte Castêlo uma estação escola para os estudantes da Licenciatura em Arqueologia.
A sexta campanha de trabalhos arqueológicos decorrerá até ao dia 27 de maio dando continuidade à investigação científica já realizada neste local ao longo dos últimos anos com resultados promissores para o conhecimento do local onde se situam as raízes remotas de Matosinhos. Nesta campanha irá aprofundar-se a área onde começaram a surgir diversas estruturas antigas, até chegar aos níveis mais antigos de ocupação desta zona.
Na área em estudo já se identificaram diversos muros, que corresponderiam à existência naquele local de duas casas do tempo do Império Romano e outros muros que parecem ter pertencido a construções mais antigas aqui existentes. Foram recolhidas ainda, para estudo posterior, numerosos fragmentos de cerâmicas, assim como amostras de sementes, que deram indicações importantes para a reconstituição dos diversos aspetos da vivência quotidiana das populações que habitaram este local há cerca de 2000 anos.
Muitos dos artefactos recolhidos nos trabalhos arqueológicos no Castro do Monte Castêlo, encontram-se expostos no MuMMa - Museu da Memória de Matosinhos, tais como cerâmica local da Idade do Ferro, cerâmica comum romana, cerâmica bracarense, cerâmica hispânica e africana, recipientes de transporte como ânforas, materiais de construção como uma tégula e ainda um grande dolium. Para além desta abundância de materiais ainda é possível visualizar os vários artefactos de iluminação, como as lucernas e alguns utensílios relacionados com a pesca.
Durante o dia 20 de maio haverá um dia aberto à comunidade onde será possível visitar o local onde decorrem os trabalhos arqueológicos.
Recorde-se que o lugar do Castro do Monte Castêlo em Guifões é um ponto fulcral para a história de Matosinhos e da região da Área Metropolitana do Porto. Estão aqui localizadas as raízes enterradas da primeira povoação de Matosinhos, tendo sido habitada desde antes do século V antes de Cristo até ao século V da Era cristã.
Por toda a área do Monte, desde o topo até à base, junto ao Rio Leça, existem indícios de estruturas arqueológicas enterradas definidas por alinhamentos de alicerces, plataformas artificiais e materiais à superfície. Na zona ribeirinha junto ao Rio Leça, perto da ponte e do moinho, poderá ter existido um pequeno fundeadouro ou porto de época romana, uma vez que este local situa-se na extremidade do antigo estuário do Rio Leça (atualmente ocupado com as docas do Porto de Leixões) onde se registam diversas evidências da chegada de mercadorias vindas de pontos longínquos do Império Romano, nomeadamente através da presença de ânforas e outros objetos fabricados em oficinas do sul de Itália, do norte de África e do Sul de Espanha.
