Emblemático edifício projetado pelo arquiteto Álvaro Siza foi totalmente remodelado e acolhe agora restaurante do chef Rui Paula.
Mal a porta da Casa de Chá da Boa Nova se abre, a paisagem que se vê, ainda antes de dar o primeiro passo, é deslumbrante. Olhando em redor, tudo cheira a novo e, em cada recanto, o traço marcante de Siza Vieira. Após a conclusão das obras de requalificação deste emblemático edifício projetado na década de 1950, a Casa de Chá da Boa Nova abriu hoje as suas portas para se dar a conhecer mas reabre ao público a partir da próxima terça-feira, dia 22 de julho.
O Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto, o Vice-Presidente, Dr. Eduardo Pinheiro, o Vereador da Cultura, Fernando Rocha e restante equipa de Vereação, Prof. Correia Pinto, Dra. Joana Felício, Dra. Lurdes Queirós e Dr. José Pedro Rodrigues, marcaram presença neste momento que permitiu dar a conhecer aos jornalistas a remodelação do espaço e a transformação em restaurante que fica agora entregue à arte e engenho do reputado chef Rui Paula.
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“Em 2012, viemos aqui com o Arqº Siza Vieira que constatou que valia a pena que a casa tivesse uma intervenção mais profunda para podermos garantir que ela se mantivesse com esta qualidade nos próximos 100 anos. E se bem se recordam todos, mesmo sendo na altura da famigerada Lei dos Compromissos e estarmos obrigados a fortes restrições financeiras pela dita lei, nós não hesitamos um segundo em considerar esta obra como prioritária. E tivemos, desde o primeiro momento, uma colaboração excecional do Siza Vieira e do seu gabinete que se disponibilizaram para avançar com o projeto mesmo sem saber de que forma é que a Câmara lhe iria pagar, numa relação de total cumplicidade”, explicou o Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto.
“Casar a excelência da arquitetura, com a excelência da gastronomia com um chef de reconhecido prestígio e que dispensa apresentações, como é o Rui Paula, e ainda a beleza do local, fazem deste “o restaurante”, ou seja, um espaço único no mundo”, referiu ainda o autarca que destacou, neste processo em tom de homenagem, para além de toda a equipa de trabalho da autarquia, liderada pelo Vice-Presidente, Dr. Eduardo Pinheiro, e pelo Vereador da Cultura, Fernando Rocha, o empenho e a entrega total do Arqº Siza Vieira e do seu Gabinete, mas também Fernando Pinto de Oliveira, o presidente da Câmara de Matosinhos "que sonhou e mandou construir esta obra".
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Uma justa homenagem.
O restauro integral da Casa de Chá da Boa Nova seguiu um projeto do próprio Arqº Siza Veira, correspondendo a um investimento total da Câmara Municipal de Matosinhos de 441 mil euros. O projeto é financiado pelo Programa Operacional Regional do Norte – ON.2, com uma taxa de comparticipação de 85%.
Todo o edifício foi objeto de uma intervenção profunda, a qual permitiu atualizar equipamentos, impermeabilizar o imóvel e recuperar a cobertura, as madeiras interiores e exteriores, as caixilharias e o betão aparente. Foram igualmente colocadas caleiras novas, realizadas segundo desenho original, e reparadas as existentes. A rede de tubagem e cablagem bem como os quadros elétricos foram substituídos, devido à sua degradação e para ficarem de acordo com a legislação em vigor. As unidades de climatização foram igualmente renovadas. Foram ainda definidos novos equipamentos de exaustão de fumos, bem como uma nova caldeira. Os trabalhos de restauro e modernização custaram 371 mil euros.
O mobiliário original, criado por Álvaro Siza, foi também reproduzido de acordo com os desenhos da época e usando os materiais inicialmente previstos, implicando um investimento que ascende aos 70 mil euros, devolvendo a Casa de Chá da Boa Nova à excelência original.
A construção da “Casa de Chá - Restaurante da Boa Nova”, conforme consta dos documentos originais, resultou, recorde-se, de um concurso aberto pela Câmara Municipal de Matosinhos em 17 de Maio de 1956, durante a presidência de Fernando Pinto de Oliveira.
O programa do concurso previa que, naquele “morro” - como que um grande rochedo em parte revestido, em parte aparente, que se levanta da terra, do mar e da praia”, ligado “desde há muito à poesia portuguesa, através da personalidade triste e grande de António Nobre” -, se fizesse um miradouro, a casa de chá-restaurante e o arranjo da plataforma norte. No que concerne à casa de chá, o documento sugeria, desde logo, que se deveria procurar atingir “uma expressão nova na nossa paisagem arquitetónica”.
Em Outubro de 1956, a autarquia decidiu entregar a execução do projeto ao arquiteto Fernando Távora, que sugeriu que o equipamento ocupasse aquele ponto específico da marginal, tendo a respetiva encomenda sido formalizada em Março de 1958.
A construção foi adjudicada em Dezembro e, dois meses depois, o então jovem arquiteto Álvaro Siza foi encarregue do projeto, por ter apresentado uma solução diferente da original (que “sobressaía muito das rochas”), a qual cativou Távora, que entretanto teve de partir para Inglaterra com uma bolsa de estudos. A edificação ficou concluída e considerada apta para abertura em 20 de junho de 1963, tendo sido inaugurada a 29 de Junho, há 51 anos. Custou, então, um milhão duzentos e noventa mil escudos.
De então para cá, a Casa de Chá da Boa Nova tinha já sido objeto de obras de conservação no ano de 1991, mas o fim da última concessão, em Março de 2012, deixou o imóvel com sinais evidentes de degradação, substancialmente agravados por sucessivos atos de vandalismo. Nesse mesmo ano, a Câmara de Matosinhos aprovou a contração de um empréstimo destinado à reabilitação do imóvel, a qual agora se conclui sem que, segundo o presidente da autarquia, dr. Guilherme Pinto, se tenha perdido um minuto sequer.
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