Exposição de evocação do 1.º centenário da morte da artista em Matosinhos
O Museu da Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira, acolhe, até 4 de setembro, a exposição “Aurélia de Souza. Do que vejo…”.
Trata-se de um dos eventos que integra o programa comemorativo que o Museu Nacional Soares dos Reis, a Universidade do Porto e os municípios do Porto e Matosinhos prepararam para celebrar uma das mulheres mais marcantes da vida artística do país e especialmente do Norte, na passagem do século XIX para o século XX.
Natural da cidade de Valparaíso (Chile), onde nasceu a 13 de junho de 1866, Maria Aurélia Martins de Souza fixou-se no Porto, aos três anos de idade, quando os pais, emigrantes portugueses na América Latina, regressaram ao país.
Autora de uma das obras de referência da arte portuguesa – "Autorretrato" (1900), da coleção do Museu Nacional Soares dos Reis, iniciou a sua aprendizagem artística com lições particulares de desenho e pintura de Caetano Moreira da Costa Lima. Com apenas 27 anos, entrou na Academia Portuense de Belas-Artes (1893/1898).
Em 1899, a artista partiu para Paris para, durante três anos, completar os cursos ministrados por Jean-Paul Laurens e Benjamin Constant, na Academia Julien. Antes de regressar a Portugal, viajou por vários países, como Bélgica, Alemanha, Itália e Espanha.
No regresso ao Porto, a pintora desenvolveu uma carreira reservada e um pouco arredada dos meios artísticos da cidade, apesar da participação regular em exposições coletivas.
Aurélia de Souza morreu no Porto, a 26 de maio de 1922, a poucos dias de completar 56 anos.
No Museu Quinta de Santiago, estão expostas 21 obras de Aurélia de Souza, oriundas quer de coleções particulares quer públicas, que abrangem as várias temáticas desenvolvidas no decorrer da sua atividade.
A cerimónia de inauguração da exposição contou com a presença da Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Luísa Salgueiro, da Presidente da Assembleia Municipal, Palmira Macedo, do Vice-presidente da Câmara, Carlos Mouta, e do Vereador da Cultura da autarquia de Matosinhos, Fernando Rocha.
Com curadoria de Cláudia Almeida, coordenadora do Museu Quinta de Santiago, e Filipa Lowndes Vicente, investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, a exposição divide-se em quatro núcleos:
- Frente a frente, dedicada ao retrato, género que a artista cultivou ao longo da sua carreira;
- Diários da Casa, onde se exploram os interiores e exteriores da Casa – Quinta da China – lugar de intimidade e marcadamente feminino;
- Pintar perto e longe de Casa, onde se conjugam planos pintados, não apenas de paisagens puras, mas também de paisagens habitadas, cenas de quotidiano, rurais ou urbanos;
- Sobre a mesa, as naturezas-mortas que Aurélia astutamente valorizou e soube executar, bem-adaptadas às condições de vida feminina, sem ameaçar as expectativas da feminilidade, como fonte de rendimento profissional.
Paralelamente à exposição, haverá uma residência artística – “À procura de Aurélia de Souza”, um programa educativo, um workshop ikebana, visitas performativas e visitas dramatizadas.
Já no próximo ano, em abril, Matosinhos será palco do segundo dia do Congresso Internacional “Mulheres Artistas em 1900”.
Também em 2023, destaque para o lançamento, em março, do catálogo integral da obra da artista, disponível em formato ebook e em edição impressa.
Com coordenação científica de Raquel Henriques da Silva e Elena Komissarova (Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova), Ana Paula Machado (Direção Geral do Património Cultural – Museu Nacional Soares dos Reis), e Maria Aguiar (Universidade Católica Portuguesa – Porto), e a parceria dos municípios do Porto e Matosinhos, o catálogo “Raisonné” apresentará uma lista descritiva e anotada de imagens e documentos de contextualização da obra da pintora, quer em coleções públicas quer em particulares.
