Uma visita conduzida pelo historiador Joel Cleto sobre a ligação aos Caminhos de Santiago
No Dia Mundial do Turismo, que se assinalou no passado domingo, a Câmara Municipal transmitiu na sua página de Facebook um episódio muito especial, conduzido pelo historiador Joel Cleto, dedicado à ligação de Matosinhos aos Caminhos de Santiago de Compostela. Recorde-se que a origem da peregrinação remonta ao século IX. Declarado Primeiro Itinerário Cultural Europeu em 1987 e Património da Humanidade pela UNESCO, o caminho apresenta várias origens e itinerários. Matosinhos integra a rota com a passagem pelo Mosteiro de Leça do Balio, mas, nos últimos anos, a praia de Matosinhos tem sido um dos pontos mais procurados por peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, que optam pelo caminho da costa, percorrendo as marginais e os passadiços, de mochila às costas. Passada na praia de Matosinhos, a visita de Joel Cleto desvenda lendas e curiosidades, nomeadamente a lenda de Cayo Carpo, que se passa no tempo em que o território de Matosinhos ainda não era cristão, e que explica a famosa associação da concha da vieira à devoção e aos Caminhos de Santiago de Compostela. Corria o ano de 44 d.C., um vasto areal no lugar de Bouças (designação, até ao início do século XX, do atual concelho de Matosinhos), conhecido como a Praia do Espinheiro, é o local escolhido pelo grande senhor romano e pagão da região, Cayo Carpo, para realizar as festas do seu casamento com a jovem Claudia Lobo, gaiense e descendente de um pretor romano. Durante as festividades, o noivo desafia os restantes cavaleiros para uma corrida invulgar de cavalos: venceria quem conseguisse entrar mais longe mar adentro. Para surpresa de todos, o cavalo de Cayo Carpo avança, desenfreado, sobre as águas sem se afundar. Dirige-se para um barco, em pedra, que passa ao largo transportando o corpo do apóstolo Santiago (de Compostela) da Palestina até à Galiza. Perante o milagre que presenciou, Cayo Carpo converte-te ao cristianismo. Engolidos pelas águas do mar, cavaleiro e cavalo reaparecem no areal completamente cobertos de vieiras, convertidas, a partir daí, num dos símbolos de Santiago. A lenda de Cayo Carpo surge retratada no exterior do Edifício dos Paços do Concelho, num friso escultórico da autoria do escultor João Cutileiro. Também, no interior, na sala de sessões pública, existe um painel de azulejos do pintor Júlio Resende.