
LeV terminou com balanço positivo em fim de semana repleto de acontecimentos
A décima primeira edição do festival LeV-Literatura em Viagem prometia debater a situação da Europa ameaçada pela desintegração e pela construção de novos muros – e os escritores convidados não dececionaram. O desnorte e a impaciência europeia foram mesmo os principais assuntos do último dia do evento, que voltou a atrair muito público à Biblioteca Municipal Florbela Espanca.
Na primeira mesa da tarde, o espanhol José Manuel Fajardo e o ministro cabo-verdiano da Cultura, Abraão Vicente, discutiram as especificidades da Europa e concluíram que a aparente falta de rumo a que atualmente se assiste pode, a prazo, constituir um perigo bem real face ao crescimento da influência chinesa no mundo. Ambos entendem que a China é sobretudo uma oportunidade, e não uma ameaça, mas Fajardo recordou que os países ocidentais sempre recorreram à guerra para impor as regras económicas quando se viram acossados. “Isto acontece quando as temos em postos-chave as pessoas certas para recorrer à violência. Neste momento, com Trump e Putin no poder, parece que essas condições podem estar reunidas”, disse o espanhol.
Logo a seguir entrou em cena o inglês David Mitchell, duas vezes finalista do Man Booker Prize, objeto de uma entrevista em que falou da sua relação com a literatura e da conversão de dois dos seus livros em filme. “Ninguém nos obriga a vender os direitos para o cinema. E, a menos que estejas disposto a devolver o dinheiro que te pagaram por isso, é mais razoável não te queixares. Até porque eu já gastei o dinheiro”, disse Mitchell.
Irónico e bem humorado, o inglês contou também como as suas personagens, a dado passo, começam a escrever-lhe cartas e a adquirir vida própria, discorrendo ainda sobre um peculiar e esperançoso projeto em que está envolvido e que só verá a luz em 2114: um conjunto de escritores estão a escrever livros que só serão impressos naquele ano, em papel produzido a partir de árvores que foram entretanto plantadas na Noruega. “Isto é um ato de esperança. Implica acreditar que em 2114 ainda vai haver mundo, leitores e livros”, explicou Mitchell, escusando-se, porém, a revelar o conteúdo do livro que escreveu. “Não é suposto falar sobre isso. Se o fizesse, teria de vos matar a todos”, gracejou.
Igualmente otimistas foram os participantes da última mesa do LeV, João Tordo e Francisco José Viegas (que substituiu Ana Margarida de Carvalho). Ao pessimismo reinante, Tordo contrapôs o facto de na Europa se viver hoje melhor do que nunca, em condições incomparáveis com outros momentos da história, marcados pela guerra e pela peste. Viegas concordou e atribuiu o pessimismo à falta de perspetiva histórica. Contou, a propósito, uma entrevista ao presidente chinês Deng Xiaoping, durante a qual, questionado sobre os duzentos anos da revolução francesa, o líder chinês respondeu que ainda não havia passado tempo suficiente para que aquele momento histórico pudesse ser corretamente avaliado.
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