
Depois do êxito alcançado no Brasil, com a participação no V Circuito de Teatro Português em S. Paulo, em Agosto passado, a peça de teatro “Amor Solúvel” subiu ao palco do Teatro S. Luiz- Jardim de Inverno, em Lisboa (de 20 a 23 de Outubro), e repetiu o resultado, registando um enorme sucesso junto do público, como se constata pelo artigo do jornalista Fernando Sousa do jornal "Público":
“(...) Foi, sim, senhora, um momento memorável, por todo um trabalho que se não fosse de equipa não teria provavelmente resultado. O amor não é só o mais clássico dos temas da arte – de todas as artes. É também o mais imperscrutável e difícil de abordar. E daqueles que para resultar ou é bem tratado ou acaba numa açorda difícil de engolir. Sim, claro, o Carlos Tê. O texto é brilhante a vários níveis, sendo que o que mais gostei nele foi o seu sentido do equilíbrio – nada está de facto dito a mais ou a menos. Mas se não tivesse sido contextualizado por actores que o tivessem sabido ler, e descoberto nele as grandezas e fragilidades humanas, as desventuras de que é feita a imensa aventura da humanidade, e por toda a equipa que o tornou uma reflexão, incluindo a cenografia, o risível das nossas contradições não teria vindo à tona e sido transmitido. E foi. Quando somos um pouco mais velhos do que um adolescente, começamos a desconfiar que a coisa não é assim tão simples. Depois temos a certeza. O que é francamente chato é que esta certeza não é, por si mesma, uma mais-valia no sentido do conhecimento do amor. Que continua a ser um mistério, entre os sucessos e os insucessos do coração e dos seus instrumentos. E é aqui, nesta espécie de limbo, onde coexiste a paz e a angústia, no espírito e no corpo, que o risível desempenha um papel fundamental. Neste sentido, os musicais podem ser qualquer coisa como um recurso de saneamento básico: descobrem-nos, põem-nos a nu, obrigam-nos a reconhecer-nos nos outros, nas almas e nos corpos, nos equilíbrios e nos desequilíbrios, descomprimem-nos, e dão-nos uma nova hipótese de compreensão. No caso do Amor Solúvel, a arte esteve em todos os instantes em que a abordagem do tema nunca descambou, manteve um ritmo certeiro, musical, nos piscares-de-olhos às coisas mais íntimas, dentro de uma linguagem que assim só pôde tocar. E curiosamente, no fim, deixou-nos grátis a ideia de que o amor, independentemente do que é, de com quem se faz, de quando se faz e de como se faz, será sempre, por si mesmo, um bem maior e um dos vértices da própria liberdade. No fim, talvez o amor seja uma coisa que apenas se sente e se faz sentir de mil formas e tonalidades. Um excelente trabalho de maturidade. Obrigado por ele.”
A peça de teatro “Amor Solúvel”, produzida pelo Cine-teatro Constantino Nery/Câmara Municipal de Matosinhos, é uma Comédia Musical escrita por Carlos Tê, com encenação de Luísa Pinto e Direcção Musical de Hélder Gonçalves (Clã).
“AMOR SOLÚVEL é um consultório sentimental em formato de talk show televisivo, onde um professor sexólogo disserta sobre o amor nas suas várias vertentes acompanhado por uma entrevistadora embevecida que lhe põe as questões que recebe por mail dos espectadores. O doutor é um sábio dotado da rara particularidade de ilustrar os pensamentos e os conselhos com canções.
As suas teorias são enriquecidas e reforçadas pela análise das canções populares o seu papel desempenhado na construção do imaginário amoroso ocidental.
A peça não tem uma história, é um consultório sentimental que explora questões enviadas por correio electrónico, mas, no seu decurso, tanto o doutor como a entrevistadora, assim como um dos camera-men, cederão a impulsos confessionais, pequenas catarses íntimas, muito ao gosto do mundo televisivo, provocando a inversão de papéis e levando a que, num dado ponto, o analista seja a analisado pela entrevistadora e pelo camera-man, depois de estes terem tido também os seus momentos de confissão pública.
Nos momentos musicais, a entrevistadora canta com o professor em duetos românticos, ajudados pelas harmonias dos camera-men, fazendo a peça deslizar para uma atmosfera inspirada nas obras para televisão do dramaturgo inglês Denis Potter” (The Singing Detective).
Por motivos de sáude, o espectáculo “Amor Solúvel” que estava previsto para dia 30 no Theatro Circo em Braga foi adiado.
Ficha Técnica:
Autoria Carlos Tê
Encenação Luísa Pinto
Direcção e Produção musical Hélder Gonçalves
Figurinos Luísa Pinto
Cenografia Cátia Barros
Coreografia Isabel Barros
Desenho de luz Bruno Santos
Técnico de som Pedro Moreira
Grafismo e Vídeo Miguel Miranda
Assistente de encenação Ana Ferreira
Produção executiva Teresa Leal
Assistentes de produção Ana Ferreira e Joana Filipa
Direcção de cena e maquinaria Rogério Marinho
Interpretação Romeu Costa, Joana Manuel, Catarina Guerreiro, Rui David, Pedro Pernas
Produção Cine Teatro Constantino Nery/ Câmara Municipal de Matosinhos

