Terceiro dia do LEV dedicado à língua portuguesa e à “Europa em Tempos de Cólera”.
Em plenas Festas do Senhor de Matosinhos, o LEV – Literatura em Viagem renasceu revigorado e repleto de novidades. E se o dia de sábado, foi de pleno sucesso em cada uma das mesas, domingo, 26 não ficou atrás. Dois momentos marcantes, pelas 15.30 horas, “A Língua Portuguesa é uma Festa!” e pelas 17.30 horas, debateu-se “A Europa em Tempos de Cólera”.
João Luís Barreto Guimarães, Carla Maia de Almeida, Onésimo Teotónio de Almeida e Teolinda Gersão conversaram sobre a importância da língua portuguesa bem com o papel de Portugal numa política global da língua. Com a descolonização, Portugal virou as costas ao espaço lusófono. Com a Europa em ruínas e o Brasil em franco desenvolvimento, estamos a redescobrir a importância da língua portuguesa. A moderação ficou a cargo do jornalista João Fernando Ramos.
“Todas as línguas podem ser uma “festa” se se conseguir estabelecer pela qualidade dos textos, um código entre leitor e autor em que cada um oferece ao outro o sublime momento da escrita e da leitura, o máximo que sabe dar: o poeta, desafiando a inteligência do leitor, trazendo-lhe conhecimento, originalidade, e acessibilidade e dificuldade q.b.; o leitor, não desistindo à mais pequena dificuldade, confiando na ética do autor, pesquisando, preparando-se de livro para livro para um enredo cada vez mais denso e profundo. Esse comércio é um intercâmbio de Visões de Mundo, é a linguagem ao serviço do pensamento, e pode, realmente, ser uma “festa”, palavras de João Luis Barreto Guimarães, poeta e cirurgião plástico e reconstrutivo, que vive em Leça da Palmeira.
Carla Maia de Almeida nasceu em Matosinhos, em 1969, é jornalista freelancer, escritora, formadora e tradutora na área do livro infantil. É responsável pelas páginas de divulgação e crítica de livros para crianças na revista LER.
Onésimo Teotónio Almeida, natural dos Açores, é doutorado em Filosofia pela Universidade de Brown, nos EUA, onde é catedrático de Estudos Portugueses e Brasileiros e tem dedicado especial atenção ao contributo de Portugal no desenvolvimento da moderna atitude empírica durante o período dos Descobrimentos.
Teolinda Gersão estudou Germanística, Romanística e Anglística nas universidades de Coimbra, Tübingen e Berlim. E é autora sobretudo de romances, publicou até agora duas novelas (Os Teclados e Os Anjos) e duas coletâneas de contos (Histórias de Ver e Andar e A Mulher Que Prendeu a Chuva).
Com a moderação do jornalista da RTP, João Fernando Ramos, e com um painel multifacetado e repleto de talento e de profundidade em cada intervenção, as palavras versavam sobretudo a importância da língua portuguesa numa era da globalidade em que o Brasil se assume cada vez mais como uma potência económica que fala a língua de Camões.
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A segunda mesa de domingo, 26 de maio, foi dedicada ao tema “A Europa em Tempos de Cólera”. Com moderação de Luis Caetano, Christiane Rösinger, Lucian Vasilescu, Manuel Jorge Marmelo, Nuno Camarneiro e Miguel Miranda falaram sobre os períodos de crise profunda na Europa que foram geradores de graves conflitos, refltetindo se poderemos – ou não- estar na antecâmara de um conflito norte/sul ou se estamos a assistir ao fim do sonho europeu. A falta de solidariedade entre os estados é só fruto de um contexto económico-financeiro ou é uma profunda questão cultural?
Christiane Rösinger foi a fundadora, cantora e letrista das bandas alemãs Lassie Singers e Britta, de Berlim. Nos anos 90, foi uma das gerentes do lendário Flittchenbar, junto à estação de comboios oriental em Berlim. Além do seu trabalho na área da música, Christiane Rösinger escreve colunas e artigos para vários jornais e revistas alemães, como o Tagesspiegel, o Berliner Zeitung ou o Frankfurter Allgemeine Zeitung. Em 2008, publicou o seu primeiro romance, Das schöne Leben (A bela vida). O seu primeiro álbum a solo, com o título sugestivo Songs of L. and Hate foi lançado no outono de 2010. Em 2012, publicou Liebe wird of überbewertet (O amor é sobrevalorizado), um livro que é um apelo humorístico à vida de solteiro. Berlin — Baku (Berlim — Baku), lançado em março passado, é o seu título mais recente, no qual a autora escreve sobre a viagem que realizou ao Azerbaijão, para participar no Festival Eurovisão da Canção.
Lucian Vasilescu nasceu em 1958 na cidade romena de Ploiesti. É poeta e jornalista, colaborador de várias revistas literárias, autor de crónicas e editoriais, presente com seleções de poesias em antologias de língua francesa e inglesa. Atualmente é editor da publicação cultural Ziarul de duminică/O Jornal de Domingo.
Manuel Jorge Marmelo é “da casa”. Conhece bem a Biblioteca Municipal Florbela onde já lançou alguns dos seus livros. Nasceu em 1971, no Porto. É jornalista desde 1989 e estreou-se na literatura em 1996 com o livro O Homem Que Julgou Morrer de Amor. Os mais de vinte títulos que tem publicados incluem romances, crónicas, livros infantis e contos.
Miguel Miranda é médico e autor de vários romances, livros de contos e livros infantis. Recebeu o Grande Prémio de Conto da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro Contos à Moda do Porto (1996); o Prémio Caminho de Literatura Policial pelo livro O Estranho Caso do Cadáver Sorridente (1977); e o Prémio Fialho de Almeida pelo livro A Maldição do Louva-a-Deus (2001). Está traduzido em Itália e representado em diversas coletâneas. A Paixão de K é o seu oitavo romance, depois de Dai-lhes, Senhor, o Eterno Repouso e Todas as Cores do Vento, já publicados pela Porto Editora.
Nuno Camarneiro nasceu na Figueira da Foz em 1977. Licenciou-se em Engenharia Física pela Universidade de Coimbra, trabalhou no CERN e doutorou-se em Ciência Aplicada ao Património Cultural pela Universidade de Florença. Atualmente desenvolve a sua investigação na Universidade de Aveiro e é docente no Departamento de Ciências da Educação e do Património da Universidade Portucalense. Em 2011 publicou o seu primeiro romance, No Meu Peito Não Cabem Pássaros, saudado pela crítica, publicado também no Brasil e cuja tradução francesa está prevista para breve.
Pensar a Europa, os conflitos passados, o futuro, o que podemos esperar do chamado “sonho europeu” levou a que esta quinta mesa do LEV permitisse fechar com chave de ouro esta sétima edição que regressou, após um período de interregno, revigorada e repleta de energia e novidades. Ficou para muitos dos presentes uma sensação de que “soube a pouco”, mas fica a certeza de que para o ano há mais. Mais LEV. Mais novidades. No sítio do costume: em Matosinhos!
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