A figura de Maria Madalena tem sido alvo de construções culturais que ao longo de séculos a tornaram santa e pecadora, devota e amante, cuidadora e "apóstola". Estas construções, que correspondem a uma forma ideológica e política de escrever a história, repetem uma narrativa cultural que coloca a mulher num determinado lugar na sociedade ocidental. Somos herdeiras e testemunhas desse lugar. Então, a pergunta que se coloca hoje não é quem foi Maria Madalena, mas sim, quem tem sido. A partir de agora queremos ser nós a escrever a história. Dentro do seu espectro simbólico, a Madalena cabe o papel de cuidadora: alimentar, limpar, vestir e chorar os corpos, de iniciar e fechar o ciclo da vida. É ela que prepara o corpo morto de Cristo para as cerimónias fúnebres e também é a ela que é dado a conhecer o milagre da transcendência da carne. Atualmente, o contacto com o corpo morto, como parte integrante do processo de luto, é-nos vedado tanto a mulheres quanto a homens. A morte foi higienizada, desmaterializada, tornada abjeta. Invocando a simbólica figura de Madalena, este espectáculo procura resgatar o direito a esse contacto, como parte do luto, um processo cujas diversas fases negação, raiva, negociação, tristeza e aceitação permitem atravessar a dor e regressar plenamente para os vivos. Este espectáculo é um modo de inscrever a morte na realidade da vida.
Direção artística Sara de Castro
com Ana Brandão, Carla Galvão, Cuca M. Pires, Madalena Almeida, Sara de Castro e Teresa Moreira
Dramaturgia Ana Pais, Sara de Castro Cenografia e figurinos Marta Carreiras Desenho de luz Rui Monteiro com Teresa Antunes Desenho de som Duarte Moreira Consultoria histórica Liliana Caetano, Paulo Mendes Pinto Assistência de encenação Cuca M. Pires Produção Dentro do Covil Produção e Criação Artística Coprodução Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Viriato, Centro de Arte de Ovar Apoios Fundação GDA, GTIST Grupo de Teatro do Instituto Superior Técnico, Teatro Meridional, CAL Primeiros Sintomas, TEC Teatro Experimental de Cascais